Livro de López Obrador reaviva debate sobre legado da Conquista
No recém-lançado livro "Grandeza", o ex-presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, provoca uma reflexão crítica sobre a Conquista da América pelos espanhóis, descrevendo-a como um período marcado por violência e opressão. A obra, com mais de 600 páginas, revisita a chegada dos conquistadores liderados por Hernán Cortés e examina o impacto devastador que tiveram sobre as populações indígenas, que, segundo ele, eram nobres, solidárias e alheias à avareza.
López Obrador argumenta que a Conquista foi, na verdade, uma invasão violenta, resultando em "desdicha, corrupção, estancamento e retrocesso". Ele enfatiza que esse processo não trouxe progresso ou justiça às comunidades indígenas. As reflexões do autor reabrem feridas históricas nas relações entre México e Espanha, que têm sido tensas nos últimos anos, especialmente após sua chamada para que a Coroa espanhola se desculpasse pelos abusos cometidos durante a Conquista.
O ex-mandatário, que governou o México entre 2018 e 2024, destaca em seu livro que as culturas indígenas tinham suas próprias virtudes, com um estilo de vida que não incluía a avareza ou a exploração. Ele acredita que a Conquista introduziu a corrupção, a escravidão e a desigualdade social, afirmando que, enquanto os invasores buscavam ouro e fortuna, isso não resultou em prosperidade nem para as Américas nem para as classes empobrecidas da Espanha.
Em meio a esse contexto, a recente mudança no tom do governo espanhol, que começou a reconhecer o "dor e injustiça" sofridas pelos povos originários durante a colonização, coincide com o lançamento do livro. López Obrador enfatiza que, apesar dos esforços dos conquistadores para exterminar as culturas indígenas, os povos originários não apenas sobreviveram, mas continuam a resistir e a manter seus valores ao longo dos séculos.
O ex-presidente também critica a falta de responsabilização dos líderes espanhóis que comandaram a invasão e perpetuaram a opressão, apontando que durante os três séculos de dominação colonial, milhões de indígenas morreram devido a doenças e genocídios. Ele questiona a narrativa de que a civilização foi trazida para as Américas, argumentando que a realidade foi a perda de vidas e sofrimento.
Para ilustrar seu ponto de vista, López Obrador menciona que as antigas civilizações mesoamericanas possuem um legado cultural que inclui honestidade, trabalho comunitário e justiça social. Em seu discurso, ele reconhece que a democracia, embora não no sentido político moderno, existia entre os povos indígenas, onde o governo se destinava ao benefício do povo.
O livro conclui com uma diretriz para os militantes de seu partido, o Morena, destacando que a verdadeira política deve ser feita com amor ao povo, e não como um mero jogo político.
A obra "Grandeza" é uma chamada à reflexão sobre o passado e suas consequências, além de um manifesto de identidade e valorização das culturas indígenas que continuam a moldar a sociedade mexicana contemporânea.