Revelações chocantes sobre prisões na Síria despertam indignação
Uma investigação internacional, que inclui a participação do EL PAÍS, revelou uma série de fotografias que documentam o brutal regime de Bashar al-Assad na Síria. As imagens, que emergiram após a queda do ditador e a fuga de um alto oficial da polícia militar, expõem a máquina de morte que operou nas prisões do país, resultando em detenções e assassinatos em massa.
Na noite da queda do regime, um coronel conhecido como Muhammad fez uma fuga dramática, levando consigo um disco rígido que continha milhares de arquivos e fotografias de prisioneiros mortos em custódia. Entre as imagens, há relatos de cadáveres empilhados e outros que evidenciam tortura extrema. "Isso são coisas que as pessoas precisam saber. Famílias precisam de respostas sobre o que aconteceu com seus entes queridos", afirmou a fonte que permaneceu anônima por questões de segurança.
A investigação, chamada de Dossie de Damasco, contém mais de 64.000 documentos internos e 33.000 fotografias de detidos. Até agora, foram identificadas pelo menos 10.212 pessoas nas imagens, todos eles prisioneiros que passaram pelas penitenciárias sírias desde 2011. As fotografias foram compartilhadas com a procuradoria geral da Alemanha, que investiga os crimes do regime de Assad, além de várias ONGs.
Ao longo dos anos, diversas organizações não governamentais contabilizaram pelo menos 157.000 civis mortos pelas forças do governo assadista durante a guerra, e 177.000 pessoas desaparecidas. Isto coloca o regime sírio entre os mais mortais do século XXI.
As imagens do Dossie de Damasco são uma continuação de provas documentais coletadas anteriormente, que mostravam torturas sistemáticas em prisões, as quais levaram a processos judiciais internacionais. As terríveis condições de vida e a violência física enfrentadas pelos prisioneiros são documentadas em arquivos que descrevem as circunstâncias de suas mortes, com muitos sofriam de inanição e lesões físicas, enquanto a maioria dos certificados de óbito registrava "parada cardiorrespiratória" como causa oficial de morte.
Documentação e burocracia macabras
Máquinas de assassinato não operam apenas ao acaso; há uma burocracia por trás das atrocidades. A cada morte, um corpo era fotografado, catalogado e registrado com um número, o nome do fotógrafo, data, e informações da unidade militar que detinha o prisioneiro. Essa prática de documentar as violações, ainda que com o intuito de legitimar as mortes, revela um sistema organizado e metódico que sublinha o horror cubano.
Pesquisadores que analisaram as fotografias relatam que muitos dos corpos apresentavam sinais claros de tortura e miséria, e para muitos, o nome de um ente querido foi confirmado pela primeira vez através de documentos encontrados no Dossie de Damasco. As famílias em busca de seus desaparecidos frequentemente enfrentam um intenso sofrimento psicológico ao receber notícias sobre os destroços de suas esperanças.
As imagens obtidas por fontes analisadas por jornalistas do ICIJ não apenas testemunham o tratamento desumano dos prisioneiros, mas também imploram por respostas e justiça. O resultado é um chamado urgente à comunidade internacional para que não fechem os olhos para os horrores que ainda persistem na Síria.
O impacto psicológico e emocional das vítimas
Com a queda do regime, muitos sirios correram para as prisões recém-abertas na esperança de encontrar seus entes queridos, mas, em sua maioria, voltaram com as mãos vazias. Essas experiências ressaltam o dano coletivo que as desaparecimentos forçadas provocam nas comunidades. "As famílias inconsoláveis precisam de respostas e reconhecimento", declarou a Red Síria para os Direitos Humanos.
As fotografias que surgiram do Dossie de Damasco e as histórias de sofrimento que elas carregam não devem ser esquecidas. É uma chamada para que o mundo continue a buscar a verdade e a justiça para as vítimas do regime de Assad, e um lembrete do que pode ocorrer quando a comunidade internacional falha em agir.