Favelas de Campinas enfrentam ausência de infraestrutura básica
O Censo 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), trouxe à tona um quadro alarmante da infraestrutura nas favelas de Campinas, no estado de São Paulo. Segundo os dados, a cada 10 moradores de favelas e comunidades, apenas 1 possui um ponto de ônibus em sua rua. Isso reflete a grave falta de acessibilidade e de serviços públicos essenciais para essas áreas.
De acordo com o levantamento, que revelou as condições do entorno das moradias, a cidade conta com 118 favelas e comunidades que abrigam cerca de 140,7 mil pessoas, o que representa aproximadamente 12,3% da população de Campinas. Entre os dados mais preocupantes, destacam-se:
- Sem ponto de ônibus: 124,7 mil moradores sem acesso, o que equivale a 89,4% do total;
- Sem bueiro ou boca do lobo: 86,961 mil moradores sem acesso, representando 62,3%;
- Sem pavimento: 65,599 mil moradores sem acesso, cerca de 47%;
- Sem calçada: 60,372 mil moradores sem acesso, equivalente a 43,2%;
- Sem arborização: 50,992 mil moradores sem acesso, representando 36,56%;
- Sem iluminação pública: 21,266 mil moradores sem acesso, o que corresponde a 15,2%.
O analista socioeconômico do IBGE, Jefferson Mariano, enfatizou a disparidade entre as condições das favelas e as dos bairros mais próximos. "Há sempre uma predominância de arborização e presença de asfalto fora da favela. O contraste é muito grande", explicou Mariano.
"Estamos abandonados, à mercê do caos. É como se nós não fôssemos pessoas, entende? Nós passamos a ser números, números de pessoas que não têm nada", declarou Ana Paula Veronezzi, líder comunitária do Jardim Rosália IV, que expressou a frustração dos moradores em relação à falta de infraestrutura básica.
Além disso, a região do Jardim Novo Flamboyant, conhecida localmente como Buraco do Sapo, apresenta problemas semelhantes. Os moradores enfrentam ruas estreitas que não permitem o tráfego de ônibus, além da falta de calçadas e rede de esgoto adequada. Vilma Maciel, residente da área, relatou: "Tudo aqui é gato. Eu moro aqui já faz 35 anos e nunca tivemos uma legalização de energia".
As dificuldades não se limitam apenas à falta de pavimentação e saneamento. A pesquisadora Camilla Marcondes Massaro, do Observatório da PUC-Campinas, reforça a necessidade de um mapeamento eficiente para a regularização fundiária, mas destaca que isso não basta para garantir melhorias na infraestrutura e na qualidade de vida dos habitantes.
"A regularização sozinha não garante e não efetiva as demais políticas públicas necessárias para essas áreas", afirmou Marcondes.
A situação é complexa e exige uma resposta coordenada dos órgãos públicos. A CPFL, empresa responsável pela energia, ressaltou que a regularização das ligações elétricas no Jardim Novo Flamboyant depende de intervenções urbanísticas a serem realizadas pela prefeitura. Por outro lado, a administração municipal informou que tem mapeado os bairros para possíveis regularizações, embora não tenha fornecido um cronograma para a conclusão dos trabalhos.
A prefeitura também destacou que desde 2021, já regularizou 141 núcleos com quase 21,5 mil imóveis e que está implementando medidas para melhorar a infraestrutura, incluindo pavimentação e limpeza de córregos nas áreas afetadas.
A carência de infraestrutura nas favelas de Campinas é um reflexo de uma realidade complexa que pede atenção urgente e a formulação de políticas públicas eficazes para transformar essa situação crítica em um futuro mais digno para os cidadãos que ali residem.