Arquivamento de caso do motoboy baleado revela graves abusos policiais
Em um desdobramento significativo, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) arquivou na quarta-feira (17) a investigação contra o motoboy Evandro Alves da Silva, que foi baleado durante a Operação Escudo, ocorrida em agosto de 2023, em Santos, no litoral paulista. Esta operação, caracterizada por sua intensidade, vem gerando debates sobre práticas policiais e direitos humanos no Brasil.
O incidente se deu quando Evandro estava em um imóvel que funcionava como ponto de apoio para mototaxistas no Morro José Menino. O motoboy, que estava nu e no banheiro no momento da abordagem, foi surpreendido pelos policiais militares que adentraram a casa armados. No relato, Evandro pulou pela janela em estado de desespero após ser atingido por pelo menos um disparo de uma arma calibre 12.
Na análise do MP-SP, ficou claro que a versão apresentada inicialmente pelos policiais não se sustentava. A alegação de que Evandro estava armado foi desmentida através de imagens das câmeras corporais dos agentes. Foi constatado que, naquele momento, os policiais teriam colocado uma pistola semiautomática na cena do crime após os tiros.
O promotor Fabio Perez Fernandez, ao determinar o arquivamento do inquérito, destacou que Evandro "não estava armado, nem resistiu de qualquer forma, apenas fugiu da abordagem policial". A esposa de Evandro, a advogada Anna Fernandes Marques, expressou alívio com a decisão e afirmou que esses meses de sofrimento e incerteza deixaram marcas profundas em sua família.
"O sentimento que prevalece é o alívio, a gratidão pela vida e a possibilidade de seguir em frente com dignidade".
O caso se inseriu em um contexto mais amplo de denúncias de violência policial. A Operação Escudo, deflagrada em julho de 2023 em resposta à morte do PM Patrick Bastos Reis, resultou na morte de 28 pessoas em circunstâncias suspeitas, levando organismos de direitos humanos a levantar questões sobre execuções e abusos durante as abordagens policiais.
Evandro, antes do ocorrido, havia alugado um espaço pequeno no Morro José Menino, onde oferecia serviços de mototáxi. As imagens das câmeras mostram momentos críticos da ação, como quando os policiais dispararam e o motoboy tentou desesperadamente escapar. O socorro chegou somente 30 minutos após os tiros, e Evandro passou 45 dias em internamento, com 23 deles em coma.
As consequências físicas e emocionais da agressão foram severas. Evandro sofre com crises de pânico e problemas respiratórios constatados após a agressão. Ele revelou que episódios de ansiedade ocorrem sempre que se depara com viaturas policiais, levando-o a evitar a passagens próximas a elas.
Esse caso expõe não apenas os desafios enfrentados por Evandro, mas também um padrão preocupante de violência que permeia as operações policiais no Brasil. Em um momento em que a confiança na justiça e proteção de direitos essenciais é vital, o desdobramento deste caso poderá impactar a discussão sobre a reforma das forças policiais e a proteção dos cidadãos.
À medida que a sociedade observa e clama por justiça, as ações do MP-SP levantam questionamentos sobre a responsabilidade dos agentes de segurança e a necessidade urgente de humanização e respeito aos direitos humanos nas abordagens policiais.