Gaza: A realidade sombria sob um falso alto o fogo
Mais de 4.000 pessoas em Gaza estão praticamente sem teto devido às fortes tempestades, enquanto a reconstrução avança lentamente e os bombardeios israelenses continuam diariamente.
Crianças e suas famílias seguem expostos às intempéries, como é o caso de Rayan al Jeir, que vive em um acampamento improvisado na Cidade de Gaza. “As fortes chuvas e os ventos destroem nossas barracas”, desabafa ele por mensagens. Com a tempestade Byron, ele e outras 55.000 famílias estão em busca de novos locais para se abrigar, mas muitas regiões estão alagadas.
A população de Gaza, que conta com cerca de 900.000 pessoas vivendo em condições precárias após a destruição de mais de 80% das edificações por conta do conflito, enfrenta um inverno implacável. Os hospitais relatam casos trágicos, como o de Jalil Abu al Jair, que faleceu com apenas duas semanas de vida devido ao frio intenso em uma barraca.
“Seu corpo estava gelado”, conta a mãe do menino, Eman, em uma entrevista. O desespero é palpável, pois a falta de transporte e as difíceis condições de acesso aos hospitais fazem que o socorro chegue tarde demais para muitos.
Os relatos de vidas interrompidas em Gaza não param. Apesar do que o governo do ex-presidente dos EUA Donald Trump chamou de “paz em Oriente Médio”, a situação no território é agonizante. Com a promessa de um alto o fogo, os bombardeios israelenses se tornaram menos frequentes, mas a morte continua a marcar o dia a dia de muitos palestinos.
“Alto o fogo? Que alto o fogo?! Isso é apenas uma morte mais lenta”, dizem muitos. A população se vê confinada em 42% do território controlado pelo Hamas, com o restante sob domínio israelense, transformado em um ambiente hostil e desolado.
As sanções e restrições ainda dificultam a chegada de ajuda, com famílias se arriscando em busca de recursos. Histórias lamentáveis, como a de Fadi e Yumaa, irmãos que foram mortos ao serem alvejados por soldados israelenses enquanto tentavam coletar lenha, exemplificam a brutalidade da situação.
O plano de reconstrução proposto por Trump implica em mais complicações, com o envolvimento de instituições internacionais ainda indefinidas. Enquanto isso, a população continua vivendo em um limbo, sem saber o que o futuro reserva.
A Organização das Nações Unidas (ONU) reporta que 300.000 tendas e abrigos são necessários para os deslocados em Gaza, mas a burocracia e os bloqueios políticos ainda dificultam a entrada desses suprimentos essenciais.
Com a contagem de mortos aumentando, a ONU indica que a invasão israelense já superou os 70.000 óbitos. Essas estatísticas são perturbadoras, dado que, mesmo diante de um cessar-fogo, os disparos e bombardeios ocorrem quase diariamente. A perspectiva de uma nova fase de negociações não traz alívio, mas sim mais incertezas e desespero.
As condições alimentares continuam críticas, com 77% da população vivendo em insegurança alimentar aguda. Embora o fluxo de alimentos tenha melhorado, a situação ainda é alarmante, com muitos cidadãos sem condições de adquirir produtos básicos.
Enquanto alguns poucos benefícios aparecem na vida cotidiana, como a abertura de uma nova cafeteria, a maioria da população ainda enfrenta dificuldades imensas para alimentar as suas famílias. A desigualdade se acentua, e a esperança de dias melhores permanece distante no horizonte.
A tragédia contínua em Gaza evidencia não apenas a urgência de uma solução pacífica, mas também a necessidade de assistência e solidariedade internacional para com um povo que, em meio a um limbo de expectativas, busca apenas um recomeço.