A frustração de perder uma saída na estrada por causa de falhas no GPS é uma experiência comum. Pensando nisso, a equipe da Tern AI, que está desenvolvendo uma alternativa de GPS de baixo custo, afirma que as limitações da tecnologia atual estão ligadas à dependência da localização via satélites.
Segundo a Tern AI, a empresa descobriu uma forma de determinar a posição de um veículo utilizando apenas informações de mapas e os dados dos sensores já existentes no veículo. A proposta é um sistema econômico que não requer sensores caros adicionais.
Durante o SXSW, a startup baseada em Austin demonstrou exclusivamente para o TechCrunch a capacidade de “derivar uma posição a partir do nada”.
“Sem triangulação, sem satélites, sem Wi-Fi, nada. Nós simplesmente descobrimos onde estamos enquanto dirigimos”, declarou Brett Harrison, cofundador e presidente da Tern, enquanto Cyrus Behroozi, desenvolvedor de software sênior na empresa, preparava a demonstração em seu iPhone. “Isso é realmente transformador porque, ao nos afastarmos da triangulação, que limita a tecnologia, agora temos a capacidade de sair completamente dessa grade.”
Harrison salienta que essa inovação é crucial por diversos motivos. Do ponto de vista comercial, empresas que dependem do GPS — como aplicativos de transporte e empresas de entrega — perdem tempo, dinheiro e combustível a cada vez que precisam voltar devido a erros na localização do GPS.
Além disso, sistemas críticos como aviação, resposta a desastres e agricultura de precisão dependem do GPS. Adversários estrangeiros já demonstraram a capacidade de enganar sinais de GPS, o que pode ter impactos catastróficos tanto na economia quanto na segurança nacional.
O governo dos Estados Unidos manifestou a intenção de priorizar alternativas ao GPS. Durante seu primeiro mandato, o presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva visando reduzir a dependência de uma única fonte de serviços de PNT (posicionamento, navegação e temporização), como o GPS. Além disso, existem várias iniciativas que orientam agências, como o Departamento de Defesa e o Conselho de Segurança Nacional, a assegurarem a resiliência do PNT através da testagem e integração de tecnologias não baseadas em GPS.
“A DeepSeek declarou que nos custou US$ 6 milhões fazer o que levou [OpenAI, Anthropic e outras empresas de IA] bilhões”, afirmou Harrison. “Para fazer aquele ponto se mover em um mapa em tempo real em um veículo, o governo gastou bilhões de dólares e levou algumas décadas. Nós conseguimos com menos de US$ 2 milhões.”
A Tern saiu do modo stealth em fevereiro de 2024 e anunciou sua rodada de investimento inicial de US$ 4,4 milhões alguns meses depois. Esse foi um retorno rápido para alcançar o tipo de posicionamento que experimentei nesta semana no SXSW.
Para iniciar a demonstração, Behroozi conectou seu Honda Civic de 2019 ao seu telefone via Bluetooth, permitindo que o aplicativo da Tern utilizasse dados dos sensores existentes no veículo. Ele observou que a tecnologia da Tern pode ser integrada diretamente aos veículos a partir de 2009.
Geralmente, a Tern ajusta a posição manualmente para acelerar o processo, mas para nossa demonstração, a equipe quis um “início a frio”. Behroozi desligou os serviços de localização do telefone, de modo que o sistema inteligente da Tern tinha apenas um mapa armazenado em cache de uma área de 1.290 quilômetros quadrados ao redor de Austin e dados do veículo para trabalhar.
Enquanto o carro se movia, o sistema coletava dados das estradas para avançar em direção à “convergência”. Levou cerca de 10 minutos para o sistema alcançar a convergência total a partir do início a frio, mas Harrison garantiu que, geralmente, leva de um a dois minutos quando há um ponto de partida. Além disso, estávamos presos em um pouco de tráfego, o que dificultou o processo, acrescentou Behroozi.
Harrison destacou que o sistema da Tern também pode localizar veículos em garagens, túneis e montanhas, situações nas quais o GPS enfrenta dificuldades. Ele não explicou exatamente como, afirmando que a informação é “proprietária”.
Continuamos dirigindo por alguns minutos depois que o sistema atingiu a convergência total, e pude observar que ele monitorava nossos movimentos com precisão, parecendo tão eficaz quanto, e em alguns casos melhor que, o GPS. Isso se tornou mais evidente quando entramos no centro de Austin, onde meu Google Maps frequentemente me deslocalizava durante a semana ao decorar ruas urbanas repletas de edifícios enormes.
Harrison afirmou que o sistema da Tern é mais seguro do ponto de vista da privacidade, já que com GPS, “se alguém sabe sua identificação, pode encontrá-lo a qualquer momento.”
“Nosso sistema é um ciclo totalmente fechado”, disse ele. “Neste momento, não estamos emitindo nada. Ele está derivando sua própria posição de forma independente [via computação em borda], portanto, não há pontos de contato externos.”
“Criamos a empresa e a solução desde o início para ser escalável. Se você olhar aquele carro da Waymo e todo o hardware embutido, não vemos isso indo para um Nissan Sentra tão cedo. É simplesmente muito caro.”, diz Harrison, apontando para um robô-táxi da Waymo-Uber adiante de nós.
“A nível de fabricante, se [Tern] for implementado dentro do sistema de infotainment, é apenas um download de software, portanto extremamente escalável. Todos os veículos novos têm os dados dos sensores que precisamos. Os dados de mapa já existem com todos os provedores hoje. Então é bastante simples.”
Os futuros clientes da Tern podem variar de montadoras a fabricantes de telefones celulares, incluindo Google e Uber. Harrison mencionou que a startup está aberta a expandir a empresa, mas também para uma aquisição.
“A principal questão é levar isso para as mãos da economia, com as crescentes ameaças e a emergência de tecnologias que não estão realizando seu potencial total por causa das limitações da triangulação.”, afirmou Harrison.
Ele observou que a Tern está explorando possibilidades com o governo. Recentemente, a startup recebeu um prêmio de contrato do Departamento de Transporte dos EUA após uma semana demonstrando sua tecnologia junto com outras nove empresas de todo o mundo.
“Esperamos ter feito um bom trabalho ao mostrar ao governo o que é possível agora com a inovação americana”, concluiu Harrison.
