A sonda espacial soviética Kosmos 482, lançada em 1972 com destino a Vênus, entrou na Atmosfera da Terra e caiu no Oceano Índico na manhã deste sábado, levando a uma série de especulações sobre seu estado real e possíveis consequências. A agência espacial russa Roscosmos confirmou que a sonda inseriu-se na atmosfera às 4h24 (horário de Brasília), a oeste de Jacarta, na Indonésia, mas seu paradeiro definitivo ainda não foi localizado.
A Kosmos 482 foi projetada para suportar as condições extremas da atmosfera de Vênus, incluindo pressões 90 vezes superiores às da Terra e temperaturas que podem ultrapassar os 460 °C. Com uma carcaça de titânio e um escudo térmico avançado, a sonda conta com uma esfera metálica de aproximadamente 1 metro de diâmetro e peso de cerca de 495 kg, o que possibilita a expectativa de que partes do módulo possam ter sobrevivido à queda na Terra.
De acordo com o cientista holandês Marco Langbroek, da Universidade de Tecnologia de Delft, se o módulo de pouso permanecer intacto durante a reentrada, ele pode atingir o solo a uma velocidade de até 242 km/h. Langbroek tranquiliza a população, afirmando que o risco de um impacto acidental é baixo. "A probabilidade de ser atingido por um objeto desse tipo é semelhante à de ser acertado por um meteorito, que acontece algumas vezes ao ano", explicou.
Embora a composição da sonda permita uma maior chance de sobrevivência, Langbroek também destaca que existe a possibilidade de que o sistema de paraquedas do módulo não esteja mais funcional após mais de 50 anos em órbita. A preocupação se estende ao estado do escudo térmico, que pode estar comprometido, levantando dúvidas sobre o destino final do objeto.
Jonathan McDowell, do Centro Harvard-Smithsoniano de Astrofísica, comentou que o melhor cenário seria que o escudo térmico falhasse, resultando na queima completa da cápsula durante a reentrada. "Caso contrário, teremos um objeto metálico de meia tonelada caindo do céu", alertou McDowell, destacando a seriedade da situação.
A Kosmos 482 representa um fragmento dos anos da exploração espacial da era soviética. A análise de sua queda permitirá que especialistas investiguem as consequências de reentradas de materiais que há muito tempo orbitam nosso planeta, enquanto continua a refletir sobre os riscos que a exploração espacial impõe. O monitoramento dos eventos à medida que se desdobram é crucial para garantir a segurança e a compreensão da interação entre objetos espaciais e a atmosfera terrestre.