Um recente acordo comercial entre Estados Unidos e China trouxe um sopro de otimismo ao Brasil, evitando a recessão segundo Cassiana Fernandez, economista-chefe do J.P. Morgan no Brasil. Em entrevista à revista VEJA, ela comentou sobre as mudanças nas projeções econômicas após a trégua nas tarifas entre as duas potências mundiais, anunciada no início da semana.
O J.P. Morgan, até então uma das instituições mais pessimistas, revisou suas previsões de crescimento global, retirando a expectativa de recessão tanto nos EUA quanto no Brasil. "Este foi um acordo muito significativo. A revisão, especialmente para a China, é crucial para a economia brasileira", destacou Fernandez.
Antes do acordo, o banco previa um desempenho negativo no segundo semestre de 2025, mas, com a nova perspectiva, o PIB brasileiro deve crescer 2,3%, um aumento em relação à projeção anterior de 1,9%. Assim, a atual expectativa é de um crescimento de 0,5% em cada trimestre restante deste ano, apesar de um arrefecimento geral da atividade.
Além das oscilações internas, o acordo entre EUA e China muda a dinâmica global, com o impacto das tarifas, passando de 145% para 30%. Isso representa uma redução significativa na arrecadação dos EUA, que deve resultar em um aumento real no poder de compra dos consumidores. Fernandez também afirmou que a expectativa é de que o Banco Central brasileiro inicie cortes na taxa de juros Selic ainda em 2025, devido à desaceleração econômica.
Ainda assim, analistas do mercado seguem em alerta sobre a possibilidade de novas mudanças nas tarifas. "A volatilidade atual pode levar tanto a novas reduções quanto a um aumento nas tarifas", disse a economista. O cenário econômico agora aponta para uma desaceleração não apenas nos Estados Unidos, mas globalmente, elevando a pressão sobre os preços das commodities. "A deflação nos alimentos é sempre complexa, porém, uma pressão inflacionária menor é esperada, especialmente nos combustíveis", concluiu.
Após os recentes eventos, o J.P. Morgan também revisou suas previsões para a taxa de juros, que deve permanecer mais alta por mais tempo do que o antecipado anteriormente. A expectativa é que a Selic atinja 15% na próxima reunião do Banco Central.
O cenário atual depende de múltiplos fatores, incluindo variáveis domésticas e externas. A economista destacou que a manutenção do crescimento no Brasil está atrelada ao controle da inflação e à necessidade de reformas fiscais caso os gastos governamentais precisem ser ampliados novamente. O desafio agora se traduz em garantir um crescimento sustentável em um cenário de incertezas políticas e econômicas, definindo prioridades e estratégias para o futuro.