Tilápia, peixe nativo da África, causa impactos negativos nos biomas brasileiros. Reprodução: Globo
Espécies exóticas estão se espalhando rapidamente pelo Brasil, ameaçando a biodiversidade dos diversos biomas do país. De acordo com especialistas, essa difusão é amplamente atribuída à ação humana. Entre as espécies invasoras, destaca-se a tilápia, que, apesar de ser muito apreciada por sua carne e adaptabilidade, é nativa da África e provoca sérios desequilíbrios nos ecossistemas onde se estabelece.
Os números são alarmantes: um estudo da Universidade Federal de Lavras (UFLA) revelou que o Brasil enfrenta atualmente a presença de 444 espécies invasoras, sendo 254 animais, 188 plantas e duas algas. Muitas dessas espécies foram introduzidas no país já no período colonial, como o mexilhão dourado, que chegou em água de lastro de embarcações. O geógrafo Carlos César Durigan, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), ressalta que a transformação das paisagens naturais pela ação humana, um fenômeno que ele chama de "antropificação", é a principal causa desse problema. Isso representa um desafio significativo para a sobrevivência da fauna e flora locais, que se aglomeram em remanescentes de habitat natural.
A intervenção humana é considerada crucial também pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Além da agropecuária, os especialistas listam diversas atividades que intensificam o problema. Entre elas, a pesca esportiva, que promove a introdução de espécies predadoras, a aquicultura, onde ocorre o escape de espécies cultivadas, e o tráfico de animais silvestres, que facilita a dispersão de espécies fora de seus habitats naturais. A soltura de animais de estimação e peixamentos inadequados também estão entre as causas que ampliam a questão das invasões biológicas.
As consequências desse fenômeno são graves e variadas. O biólogo Guilherme José da Costa Silva adverte que a chegada de espécies não nativas pode levar a uma competição desleal por recursos naturais, resultando, em casos extremos, na extinção de espécies nativas. Além disso, há perigos associados à transmissão de doenças e parasitas, além da hibridização, que pode comprometer a identidade genética de populações locais. Pesquisas indicam que as principais ameaças incluem a predação de espécies nativas, a competição por alimento e abrigo, e alterações significativas nas cadeias alimentares.
Para tentar mitigar esses problemas, em 2018, o Ministério do Meio Ambiente criou a Estratégia Nacional para Espécies Exóticas Invasoras. Esta iniciativa visa gerenciar e controlar a presença de espécies invasoras no Brasil, com ações que incluem a prevenção da introdução de novos invasores e a redução dos impactos já existentes na biodiversidade brasileira. Carlos César Durigan defende que, além dessas medidas, é fundamental implementar um processo de conservação das paisagens naturais para impedir a migração de espécies. Guilherme da Costa Silva enfatiza a necessidade de controle sanitário nas fronteiras, incluindo aeroportos e estradas, para evitar a entrada de espécies estranhas ao ecossistema nacional.
A situação é crítica, mas há opções para que a população também participe da conscientização e identificação dessas espécies. Um quiz no qual os cidadãos podem testar seus conhecimentos sobre as espécies exóticas em território brasileiro foi introduzido, buscando engajar a sociedade na luta contra as invasões biológicas e para promover a conservação da biodiversidade.