Mulher grávida toca a barriga enquanto alerta para riscos do uso indiscriminado de suplementos na gestação. Reprodução: Globo
O chamado "protocolo superbebê", que circula nas redes sociais prometendo aumentar o QI de bebês durante a gestação por meio de suplementos, vem gerando preocupação entre especialistas por sua falta de comprovação científica e pelos riscos à saúde da gestante e do feto. A Dra. Lilian Hsu, presidente da Comissão Nacional Especializada em Assistência Pré-Natal da Febrasgo, alerta que a suplementação não orientada pode causar intoxicações e afetar negativamente o desenvolvimento fetal.
O protocolo sugere o uso de aminoácidos e vitaminas, tanto por via oral quanto injetável, antes da 12ª semana de gravidez. No entanto, a Dra. Lilian esclarece que a eficácia dessa abordagem não é respaldada por evidências científicas. "O desenvolvimento neurológico fetal é um processo complexo, influenciado por fatores genéticos, ambientais, nutricionais e psicossociais. Reduzir isso à administração de suplementos é uma visão simplista e perigosa", afirma.
As diretrizes de saúde, incluindo as da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde, recomendam apenas a suplementação de ácido fólico e ferro durante a gestação. Outras suplementações devem ser avaliadas de forma individual. O uso indiscriminado de substâncias pode acarretar danos ao bebê, como intoxicações e sobrecarga de órgãos, além de mascarar deficiências nutricionais que requerem tratamento.
A Dra. Lilian destaca que muitos nutrientes conseguem atravessar a barreira placentária, o que pode impactar diretamente o desenvolvimento do feto, tornando indispensável o acompanhamento médico rigoroso. Apesar da ausência de respaldo científico, o protocolo superbebê adquire popularidade devido ao desejo sincero dos pais por um bom desenvolvimento de seus filhos. "São soluções fáceis, vendidas como milagrosas, que se espalham rapidamente no ambiente digital", observa.
O combate à desinformação, segundo a especialista, precisa ser uma ação coletiva que envolve maior presença de profissionais da saúde nas redes sociais e uma fiscalização mais rigorosa por parte dos conselhos de classe. É essencial que a população aprenda a distinguir fontes confiáveis de informações sensacionalistas. "Desconfiem de promessas fáceis. Medicina de verdade se baseia na ciência, não em modismos da internet", conclui.
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) também se manifestou contra o protocolo, afirmando que sua promoção infringe o Código de Ética Médica e pode representar um risco à saúde. Para garantir um desenvolvimento fetal saudável, a Dra. Lilian recomenda um pré-natal completo com profissionais qualificados, enfatizando a importância de uma alimentação equilibrada e o seguimento rigoroso das orientações médicas durante a gestação. "Desconfiem de promessas sedutoras e busquem informações seguras", aconselha.