Um novo relatório da Microsoft aponta para um aumento preocupante nas horas de trabalho fora do horário convencional, com reuniões agendadas após as 20h subindo em 16% neste ano. Os dados foram coletados de uma pesquisa que envolveu 31.000 trabalhadores em 31 países entre fevereiro e março de 2025, e revelam que as expectativas crescentes estão desdibujando as fronteiras entre vida profissional e pessoal.
Os números indicam que os funcionários estão enviando e recebendo mais de 50 mensagens fora do horário de trabalho, e quase 20% deles admitem trabalhar nos finais de semana, além de verificar e-mails antes do meio-dia aos sábados e domingos. Os especialistas atribuem esse fenômeno ao surgimento de equipes globais e à flexibilidade que, embora benéficas, aumentam a pressão sobre os funcionários.
Em um cenário onde as demandas de negócios se tornaram mais complexas, os trabalhadores se veem na posição de dedicar menos tempo ao foco e à recuperação. A pesquisa indica que um em cada três funcionários acha que "o ritmo de trabalho nos últimos cinco anos tornou impossível acompanhar tudo".
Pressão nas Empresas e a "Intensificação do Trabalho"
O relatório da Microsoft reflete uma mudança cultural nas grandes empresas, que agora priorizam a eficiência em detrimento do bem-estar dos empregados. Gigantes da tecnologia como Meta, Google, Amazon e TikTok estão reformulando a cultura do trabalho nos Estados Unidos, onde os benefícios que eram amplamente oferecidos durante a pandemia estão se tornando escassos e substituídos por comunicações sobre "eficiência" e "frugalidade".
Essa tendência não se limita ao setor de tecnologia. De Wall Street ao Walmart, há uma movimentação conhecida como "grande achatamento", onde empresas cortam níveis de gestão em favor de equipes mais enxutas. Essa mudança, embora pretendida para aumentar a eficiência, está resultando em aumento do burnout e da desconexão entre os funcionários. Amanda Jones, docente sênior em comportamento organizacional no King's College London, destaca que essa "intensificação do trabalho" pode ter consequências prejudiciais, tanto para a saúde dos trabalhadores quanto para a produtividade geral da empresa.
“Estamos investindo mais, e se este cenário se aplicar a trabalhadores qualificados, isso não só não ajudará a fechar as lacunas de habilidades, como resultará em queda na produtividade”, afirma. Múltiplas vozes de especialistas alertam para o fato de que as pressões excessivas no ambiente de trabalho podem fazer com que a indústria entre em um ciclo vicioso, não só afetando a saúde mental dos colaboradores, mas também a eficácia organizacional.