Após quase duas décadas de controvérsias e protestos, o famoso guindaste amarelo de 60 metros que sobrevoava as Galerias Uffizi, em Florença, foi finalmente removido. O equipamento, que se tornou uma presença indesejada nas fotografias da icônica cidade renascentista, foi desmontado nesta semana, ao lado de uma onda de alívio entre os moradores e frequentadores da cidade.
O guindaste teve sua instalação em 2006, durante as obras de expansão das Galerias Uffizi, um dos principais museus de arte do mundo. Desde então, permaneceu como uma constante lesão visual na paisagem histórica, que abriga obras-primas de artistas renomados como Botticelli, Michelangelo e Leonardo da Vinci. O diretor dos Uffizi, Carlo Francini, comentou sobre a importância da remoção: "É um dia importante para a cidade". A capa de um jornal local capturou bem o sentimento do momento: "Adeus ao guindaste: o gigante encalhado em frente aos Uffizi".
Os florentinos, assim como os aproximadamente 15 milhões de turistas que visitam a cidade anualmente, expressaram abertamente seu desagrado com a estrutura. "Estamos todos felizes", disse Giacomo Tempesta, arquiteto que acompanhou o processo de desmontagem. "Era impossível tirar uma foto que não incluísse o guindaste; ele era uma presença incômoda e já era hora de retirá-lo".
A remoção do guindaste envolveu complexidades financeiras significativas, uma vez que os custos de montagem e desmontagem de tal estrutura são elevados. No entanto, a pressão pública e a frustração prolongada levaram a administração dos Uffizi a reavaliar a presença do guindaste. "Alguns meses atrás, um senhor me parou e disse: 'Eu imploro, antes de morrer, me deixe ver o pátio sem um guindaste'. Agora, isso finalmente se tornou realidade", lembrou Simone Verde, diretor atual do museu.
Apesar de a reforma das Galerias Uffizi ainda estar em andamento, o cronograma de obras foi ajustado para que a presença do guindaste não fosse mais necessária. "A reorganização levou um ano", comentou Verde. O próximo passo inclui a montagem de andaimes conforme necessário, mantendo o canteiro de obras funcionando sem a estrutura indesejada.
O guindaste não só ocupava um espaço indesejado nas vistas da cidade, como também se tornou um tema de cultura pop, inspirando uma conta no Instagram chamada “Gru in Florence The Uffizi Crane”, que se destacou por mostrar como o guindaste se tornou parte da narrativa fotográfica da cidade. A influenciadora responsável pela conta expressou sua surpresa, dizendo: "É quase deprimente que ele tenha sido removido, porque eu me apeguei a ele".
Com a remoção do guindaste, Florença agora direciona sua atenção para outro guindaste que permanece na paisagem, oriundo de um projeto que não foi concluído em 2023. No entanto, esse novo guindaste, mais discreto, não interfere nas fotografias da cúpula de Brunelleschi e do campanário de Giotto. Alguns moradores, como Fulvio Baldeschi, designer de iluminação, comentaram sarcasticamente sobre a continuidade das obras: "Nada muda", refletindo sobre a persistência de estruturas que, mesmo com a modificação do cenário, continuam a ecoar as tensões entre modernidade e tradição na cidade histórica."