A escolha dos novos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se apresenta como um verdadeiro dilema para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com a importância estratégica dessas indicações, já que os escolhidos atuarão no tribunal durante o período de até dois anos que inclui as eleições presidenciais de 2026, Lula enfrenta um cenário repleto de disputas internas e a pressão por uma maior diversidade no Poder Judiciário.
No último dia 28 de maio, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou duas listas tríplices para o TSE, enviadas ao Palácio do Planalto: uma composta apenas por juristas homens e outra exclusivamente feminina. Essa tarefa não tem prazo definido e, além disso, as indicações de Lula não requerem sabatina no Senado, o que lhe confere certa liberdade de ação.
Na lista masculina, destacam-se dois advogados que atuaram no TSE até recentemente, André Ramos Tavares e Floriano de Azevedo Marques, ambos com potencial de recondução ao cargo. Também figura na lista José Levi Mello, conselheiro do Cade que foi secretário-geral do TSE durante a presidência de Alexandre de Moraes. Todos têm vínculos com Moraes, o que levanta questões sobre a influência que ele pode exercer nas escolhas de Lula.
A disputa interna se intensifica com uma pressão explícita por parte de Moraes, que torce pela recondução de Azevedo Marques, seu amigo de longa data. “Essa lista é um abacaxi para o Lula descascar, já que um dos ministros necessariamente não será reconduzido”, comenta uma fonte do Governo, evidenciando as dificuldades que Lula pode encontrar ao decidir entre os dois candidatos da lista masculina.
No que se refere à lista feminina, a atual presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, tem se movimentado nos bastidores para apoiar a candidatura de sua assessora, Estela Aranha, e da desembargadora Cristina Maria Gama Neves. Porém, a advogada Vera Lúcia Araújo, que já ocupa uma posição como ministra substituta do TSE, parece estar ganhando mais força, especialmente por sua ligação com o influente grupo Prerrogativas, próximo a Lula.
Vera, se escolhida, pode fazer história como a primeira mulher negra no TSE, um fator que pesa a favor de sua candidatura, além de seu tempo de serviço no tribunal. “Vai ficar muito ruim para um governo progressista não respeitar a ordem natural das coisas e colocar como ministra efetiva alguém que nem atuou como substituta”, opina um interlocutor próximo a Lula. Essa situação gera um ciclo de pressão ainda maior sobre o presidente.
Os novos ministros de Lula vão assumir suas funções em período crítico, logo antes das eleições presidenciais de 2026, e podem decidir sobre processos que coloquem em risco a elegibilidade de governadores como Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro, e Antonio Denarium (PP), de Roraima. A visão é que, entre os casos que passarão por análise, estão os de membros proeminentes da família Bolsonaro, como Flávio, Eduardo e Carlos, atualmente sob investigação por envolvimento em um alegado "ecossistema de desinformação".
Portanto, as expectativas para a escolha dos novos ministros do TSE não apenas refletem as complexas articulações políticas de Lula, mas também a importância vital que essas decisões terão nas próximas eleições e na configuração do Judiciário brasileiro nos anos vindouros.