A cada dia, cerca de 15 palestinos perderam a vida na Faixa de Gaza ao tentarem receber ajuda humanitária. Desde que a Fundação Humanitária para Gaza (GHF) assumiu a distribuição de alimentos e outros suprimentos essenciais em 26 de maio, a situação tornou-se crítica. Somente no último mês, cerca de 440 pessoas foram mortas e mais de três mil feridas nas tentativas de auxílio, levando o chefe da UNRWA, Philippe Lazzarini, a classificar o sistema atual como um verdadeiro desastre humanitário.
O novo "mecanismo de ajuda" já foi definido como uma armadilha mortal. Durante uma coletiva de imprensa em Berlim, Lazzarini criticou a abordagem, afirmando: "É uma abominação que humilha e degrada pessoas desesperadas. É mais letal do que salvadora." Sua declaração veio no mesmo dia em que forças israelenses mataram pelo menos 44 pessoas que aguardavam atendimento humanitário, com testemunhas relatando que os militares abriram fogo deliberadamente contra as multidões.
As forças armadas israelenses frequentemente negam sua responsabilidade, alegando que apenas efetuaram "tiros de advertência" contra aqueles que se aproximaram “de maneira suspeita”. Contudo, nas últimas semanas, a força letal tem sido uma prática comum para controlar as multidões em locais de distribuição de ajuda, forçando muitos a decidir entre arriscar suas vidas ou deixar suas famílias sem alimentos. Vídeos verificados pelo New York Times mostram cenas aterradoras, com corpos estendidos no chão e pessoas gravemente feridas.
Mohammed Saqer, testemunha dos incidentes, relatou à CNN: "Eu podia ouvir os gritos de jovens e de outros por causa dos ferimentos. Havia uma pessoa ao meu lado com um tiro no olho. Até recuar era quase impossível, e todos estavam deitados no chão, sem conseguir levantar a cabeça porque, se levantassem, seriam baleados." Esse relato reflete o clima de terror vivido em Gaza, onde a luta pelo acesso a gêneros básicos se transforma em uma batalha pela sobrevivência.
A Fundação Humanitária para Gaza iniciou seu programa após Israel cortar a entrada de mantimentos na região por mais de dois meses, despertando alertas globais sobre o risco de uma fome em massa. As autoridades israelenses alegam que a GHF foi criada para substituir um sistema anterior falho, acusado de permitir que o Hamas desviasse ajuda humanitária. Contudo, agências de ajuda negam qualquer evidência de tais práticas.
Mais de uma dúzia de organizações humanitárias emitiram uma carta pedindo a suspensão imediata da GHF, caracterizando sua abordagem privatizada e militarizada como uma mudança radical e problemática nas operações de ajuda. O porta-voz do escritório de direitos humanos da ONU, Thameen al-Keetan, afirmou que a exploração de alimentos para civis configura crimes sob o direito internacional.
O diretor interino da GHF, John Acree, considerou fechar os centros após um ataque que resultou na morte de oito funcionários. Todavia, decidiu continuar as operações para atender os palestinos que dependem dessa ajuda. As Nações Unidas também condenaram o ataque e enfatizaram a necessidade de responsabilização.
A guerra entre Israel e Hamas continua a impactar severamente a população da Faixa de Gaza, com a Palestina relatando que metade das vítimas dos bombardeios são mulheres e crianças. Dados do Ministério da Saúde palestino indicam que mais de 56 mil pessoas já morreram e 131 mil ficaram feridas desde o início das hostilidades em outubro de 2023.
A crise humanitária se agrava com o uso da fome como arma de guerra, e líderes humanitários alertam que as condições em Gaza representam uma ameaça à vida da população. Jonathan Whittall, da ONU, disse: "É a fome usada como arma. É uma sentença de morte para quem apenas tenta sobreviver." Jorge Arreaza, ex-ministro das Relações Exteriores da Venezuela, também denunciou a situação, ressaltando a urgência de uma resposta internacional eficaz.