O presidente Luiz Inácio Lula da Silva provocou polêmica ao misturar sua função como chefe de Estado com suas crenças pessoais durante a visita à ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Aproveitando a ocasião da reunião de cúpula do Mercosul em Buenos Aires, Lula criticou a condenação de Kirchner por corrupção, desafiando a norma de não interferir em assuntos internos de outros países.
A visita, que não contava com o apoio do Itamaraty, foi inicialmente planejada como um gesto de solidariedade sem declarações polêmicas. Contudo, Lula desafiou essa expectativa ao receber o Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, e posar com ele para uma foto ao lado do cartaz “Cristina Livre”. Pérez Esquivel afirmou que Lula acredita na inocência de Kirchner, um gesto que extrapolou a cautela diplomática exigida nesse tipo de visita.
Lula também expressou sua percepção do apoio popular à ex-presidente argentina em suas redes sociais, enfatizando a importância desse reconhecimento em momentos difíceis, e fazendo uma referência implícita à própria condenação que sofreu anteriormente por corrupção.
A condenação de Cristina Kirchner pela Justiça argentina ocorreu após um processo que durou nove anos, com amplo direito de defesa. A Corte Suprema a condenou à prisão domiciliar por seis anos, após encontrar uma “profusão de provas” que a implicavam em corrupção envolvendo o empreiteiro Lázaro Báez, resultando em um prejuízo de US$ 500 milhões ao Tesouro argentino.
A história de confusão entre laços pessoais e relações de Estado não é nova. Em 2019, o então presidente argentino, Alberto Fernández, também fez uma visita a Lula na prisão, em um gesto que foi contestado na época. No entanto, a situação se torna mais grave quando há contestação a decisões judiciais de um país soberano, algo que Lula já havia feito ao conceder asilo político a Nadine Heredia, mulher do ex-presidente peruano Ollanta Humala, que também enfrentava acusações de corrupção.
Os recentes gestos de Lula questionando as decisões da Justiça argentina podem prejudicar a relação entre Brasil e Argentina, além de não servir aos interesses nacionais. O presidente pode ter suas opiniões sobre a Justiça, mas sua conduta como chefe de Estado deve pautar-se pela diplomacia e respeito pela soberania das nações, evitando provocações ou gestos pessoais que não contribuem para a harmonia entre os países.