Após dois anos à frente da X, a CEO Linda Yaccarino decidiu deixar o cargo em um cenário tumultuado, marcado pela relevância de sua função na recuperação da plataforma que, antes conhecida como Twitter, enfrentava grandes desafios sob a liderança de Elon Musk. Contratada para revitalizar o setor de anúncios, Yaccarino rapidamente se viu desempenhando o papel de pacificadora em meio às crises causadas pelas decisões do fundador.
Yaccarino ingressou na X em junho de 2023, com expectativas elevadas por parte de investidores e líderes da indústria publicitária. A veterana de Madison Avenue tinha a missão de reverter a queda do negócio publicitário, que despencou com a compra da plataforma por Musk em 2022. Em suas primeiras semanas, no entanto, ficou claro que seu foco principal seria garantir a estabilidade interna da empresa. "A principal responsabilidade de Yaccarino seria manter a moral elevada dentro da empresa", explicou Bruce Daisley, ex-VP da Twitter.
Antes de sua passagem pela X, Yaccarino teve uma notável trajetória no NBCUniversal, onde dirigiu o setor de anúncios por mais de uma década, gerando vendas superiores a 100 bilhões de dólares. Seu relacionamento com as principais marcas de publicidade era visto como um trunfo, e a expectativa era que ela aplicasse essa experiência para consertar os danos causados por Musk na X. No entanto, a abordagem liberal de Musk em relação à moderação de conteúdo levantou preocupações entre anunciantes, considerando o histórico da plataforma sob sua nova direção.
Logo após sua chegada, o ambiente de negócios da X se deteriorou com o retorno de contas banidas e a flexibilização das regras de conteúdo, resultando em uma queda de 40% na receita de anúncios em dezembro de 2022 em comparação com o ano anterior. As preocupações com a segurança da marca se tornaram uma prioridade para os anunciantes, especialmente sob a nova gestão. No entanto, Yaccarino conseguiu apaziguar algumas relações com fornecedores e começou a expandir os produtos de vídeo da plataforma.
Apesar das tentativas de recuperação, a percepção de que Yaccarino estava, na verdade, sob controle total de Musk não ajudou. Em entrevistas, ela demonstrou insegurança sobre as mudanças e planos do chefe, o que a tornava vulnerável a críticas. Além disso, o afastamento de grandes anunciantes, como Disney e IBM, em reação aos comentários polêmicos de Musk, reforçou a imagem de um ambiente hostil para os negócios.
Não ajudou que, durante seu tempo na X, a empresa processasse grandes anunciantes por um suposto boicote. Profissionais do setor consideraram tal ação como uma violação das normas da publicidade, complicando ainda mais a posição de Yaccarino. De acordo com a World Advertising Research Center, a receita publicitária da X deverá cair 6,9% este ano, evidenciando que a empresa perdeu terreno mesmo em comparação a um mercado global que cresceu.
A decisão de Yaccarino de deixar a posição pode, em certos aspectos, ser vista como uma manobra positiva, considerando o cenário adverso. Observadores do setor sugerem que o tempo sob a tutela de Musk submeteu Yaccarino a constantes desafios, que, além de afetarem seu controle, poderiam se tornar situações constrangedoras. Embora não tenha sido divulgada uma declaração oficial sobre sua saída, seus amigos afirmam que ela sempre deixou claro que sairia quando achasse que era o momento certo, já que financeiramente não dependia do cargo.
Com a saída de Yaccarino, resta questionar qual será o próximo passo para a X e se a nova direção conseguirá reverter a maré negativa em que a plataforma se encontra, especialmente em um mercado de publicidade cada vez mais exigente e competitivo.