O ex-secretário de Segurança do Distrito Federal, Fernando de Sousa Oliveira, se apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) e fez declarações impactantes sobre o aumento de policiamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no segundo turno das eleições de 2022. Em seu depoimento, Oliveira afirmou ter rejeitado pedidos de Anderson Torres para intensificar a presença policial com a intenção de impedir ou dificultar o voto de apoiadores do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, especialmente na região Nordeste.
Oliveira, que anteriormente ocupou o cargo de diretor de operações do Ministério da Justiça e foi um dos principais colaboradores de Torres, destacou sua oposição à viagem do ex-secretário aos Estados Unidos antes dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, e alega que a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) não seguiu os protocolos de segurança estabelecidos, o que pode ter contribuído para o colapso na segurança durante os incidentes.
Em seu depoimento, ele negou ter participação em um esquema de direcionamento do policiamento da PRF. "Nunca estive conivente com isso", disse. No entanto, ele admitiu que Torres fez pedidos de aumento de policiamento que não foram atendidos. A Procuradoria Geral da República (PGR) cobra do ex-secretário explicações sobre a possível intenção de operações policiais ilegais na época do pleito.
Na sessão, o ex-diretor fez questão de enfatizar que a PMDF não cumpriu o Protocolo de Ações Integradas (PAI), um plano desenhado para evitar os ataques de bolsonaristas a edifícios públicos no dia 8 de janeiro. "A Polícia Militar deixou de cumprir diversas ações previstas no PAI", afirmou, ressaltando o desalinhamento ocorrido entre sua administração e a PMDF.
Fernando de Sousa Oliveira também questionou a negativa da PM em solicitar apoio da Força Nacional durante os episódios de violência, alegando que essa ajuda poderia ter sido crucial para a contenção dos ataques. “A PM não cumpriu as ações estabelecidas e houve desalinhamento devido ao pedido de reposição de efetivo na Esplanada”, reiterou.
Um elemento chave na apuração da PGR são mensagens encontradas no grupo de Whatsapp "EM OFF", usadas por integrantes do ministério, que evidenciam um planejamento que sugere uma operação policial direcionada em favor de determinados candidatos. Oliveira admitiu que dialogou sobre esses dados, mas alegou não ter acesso direto às informações pertinentes. Sobre mensagens percepcionadas como indicativas de um direcionamento político, ele minimizará a gravidade, afirmando que o grupo era privado e não oficial.
Sob intensa pressão durante seu depoimento, ele declarou nunca ter estabelecido um laço pessoal com Anderson Torres, apesar de suas amplas interações em cargos públicos. Oliveira enfatizou que em 5 de janeiro de 2023, ao perceber a viagem do ex-secretário, imediatamente pediu que o então secretário fosse informado, pois ele tinha "total ciência do que poderia vir a acontecer". Esta afirmação levanta questões sobre a responsabilidade de Torres ao deixar o país em um momento que exigia sua presença diante da crise política.
O julgamento de ambos, Oliveira e Torres, ocorre em um contexto delicado, onde a PGR busca esclarecer as nuances da estratégia policial nas eleições de 2022 e possíveis conivências entre os envolvidos. As repercussões dessas declarações poderão impactar o andamento das questões legais dos réus e a opinião pública sobre o funcionamento das instituições durante um dos períodos mais tumultuados da história política recente do Brasil.