Em uma decisão que reverbera no cenário político internacional, o Brasil decidiu acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC) contra o tarifaço imposto por Donald Trump sobre produtos brasileiros. Especialistas ouvidos pelo g1 destacam que essa manobra possui um impacto mais simbólico do que efetivo, refletindo a busca de um posicionamento político e moral.
Hussein Kalout, doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Lancaster e conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), esclarece que o objetivo do Brasil ao recorrer à OMC se fundamenta na defesa dos princípios do direito do comércio internacional. Embora a consulta seja uma ação significativa, as implicações práticas são limitadas. "A intenção é reafirmar a importância da OMC como reguladora do comércio mundial", afirma Kalout.
A conversa entre líderes é um ponto crucial nessa dinâmica. Kalout enfatiza que uma eventual comunicação entre Brasil e Estados Unidos deve ter metas claras, onde o resultado tangível é imprescindível. Apesar do desejo brasileiro de dialogar, a vontade do governo americano ainda é uma incógnita. "O Brasil está enviando sinais positivos, mas resta saber se os EUA estão dispostos a negociar", observa.
Os esforços diplomáticos estão em andamento, com o vice-presidente Geraldo Alckmin e outros ministros fazendo contatos diretos com autoridades americanas. No entanto, a eficácia dessas interações pode ser comprometida pelo cenário atual da OMC.
A OMC, responsável por facilitar a resolução de disputas comerciais, enfrenta um estado de paralisia desde 2019, graças à recusa de Trump em nomear novos juízes para o seu órgão de apelação. Para Amâncio Jorge, professor de Relações Internacionais da USP, isso limita drasticamente as chances de se alcançar um consenso sobre as tarifas. "Com a OMC esvaziada, o potencial dessa ação do Brasil é repleto de incertezas", avalia.
Apesar da limitação prática que essa ação acarreta, a decisão pode ser vista como uma forma de reafirmar os princípios do comércio internacional. O cientista político Leonardo Paz, da Fundação Getúlio Vargas, concorda com essa linha, observando que Trump frequentemente ignora as normas da OMC, negociando em termos que atendem a seus próprios interesses. A postura do Brasil, segundo Paz, não apenas visa proteger seus interesses, mas também demonstrar a resiliência da OMC diante das dificuldades.
Nos bastidores, a estratégia de apresentar um recurso à OMC se alinha a outras iniciativas do governo Lula para mitigar os efeitos das tarifas de 50% aplicadas às exportações brasileiras. Diplomatas ponderam que, mesmo que a OMC decida a favor do Brasil, sua capacidade de implementar mudanças pode ser nula. Portanto, aumentar a pressão a partir de uma coalizão com países que também foram afetados pelo tarifaço é uma possível estratégia em discussão.