A madrugada de sábado foi marcada por um aumento alarmante na pressão migratória na fronteira sul da Espanha, com cerca de cem migrantes tentando atravessar a nado para Ceuta a partir de Marruecos. A Guarda Civil e a Marinha marroquina mobilizaram-se intensamente para interceptar esses grupos, composto por muitos jovens e pelo menos sete menores não acompanhados, que se lançaram ao mar em meio à densa neblina.
Em imagens que circulam nas redes sociais, jovens migrantes se encontram à beira da praia em Ceuta, implorando por ajuda. Corpos exaustos, prendas molhadas, e arrastados pelas ondas, muitos desses migrantes estavam a pedido da polícia, e assim como um guardinha chegou até eles. Diversos relatos da Delegação do Governo em Ceuta indicam que, apesar das tentativas, muitos foram fisicamente impedidos pela Marinha marroquina antes que alcançassem águas territoriais espanholas.
Por trás deste fenômeno, encontra-se uma realidade de migração silenciosa, uma fuga desesperada em busca de melhores condições de vida, evidenciada pelo uso de pequenos flutuadores e a bravura de atravessar um mar perigoso. Neste período do ano, a neblina que cobre a costa representa um obstáculo adicional e uma janela de oportunidade para aqueles que se arriscam a tentar a travessia de forma clandestina. “Com a neblina aumenta a dificuldade de ser detectado”, afirmam fontes da Delegação.
A mídia local reportou um aumento na propagação de vídeos e mensagens em redes sociais incentivando os jovens a tentarem atravessar nadando a partir da zona de El Tarajal, uma prática que se intensificou nas últimas semanas. Estima-se que, na última ressaca migratória, o número de tentativas diárias de travessia aos 50 tenha se multiplicado em resposta a convites nas correntes de WhatsApp.
Na madrugada do dia 26 de julho, um episódio semelhante ocorreu, quando pelo menos 54 menores marroquinos não acompanhados conseguiram chegar a Ceuta, aproveitando também as condições climáticas favoráveis. Esses novos chegados agora somam-se a mais de 480 menores que já estavam sob tutela das autoridades locais, muito além da capacidade de abrigo prevista de apenas 132 crianças.
Em face do crescimento contínuo dessas tentativas, o governo de Ceuta reiterou sua solicitação de intervenção do Executivo central. “O momento é crítico e essa é uma questão de Estado. Não queremos ficar sozinhos neste desafio”, afirmaram autoridades locais. O ano passado foi um marco, com mais de 300 menores cruzando a nado a Ceuta, o que sobrecarregou os recursos disponíveis para suporte e abrigo.
O foco do governo local está no processo de transferência de menores não acompanhados por parte do governo central para outras regiões da Península. O objetivo do plano, conforme revelado pela ministra de Juventude e Infância, Sira Rego, é realocar 4.400 menores de Ceuta e Canárias para outras comunidades.
A AUGC, a Associação Unificada da Guarda Civil em Ceuta, lançou um apelo urgente no último fim de semana, para a necessidade de aumentar o número de patrulhas na costa com a adição de 200 agentes. Enquanto isso, eles observam que os dados sobre os migrantes que se arriscam no mar, amparados só por flutuadores, não estão registrados nas estatísticas do Ministério do Interior, com estimativas que sugerem que essas tentativas se contam em centenas.
Desde janeiro, o número de serviços de imigração reportados pelo Ministério do Interior revelou um declínio nas entradas pela rota marítima, com uma queda acentuada de 32,2% em comparação ao ano anterior. As rotas de Ceuta e Canárias registaram quedas de 77% e 46%, respectivamente, mas as autoridades registraram um aumento nas chegadas às costas da Península e Baleares de 14,8%.
Porém, esses números refletem apenas as entradas registradas via embarcações. As autoridades em Ceuta alertam que muitos indivíduos cruzando o mar a nado não estão incluídos nessas estatísticas, caracterizando essa rota como uma das mais perigosas, que agora atrai não só marroquinos, mas também pessoas de várias nacionalidades, que se afastam cada vez mais da costa em busca de evitar interceptações.