As negociações para estabelecer o primeiro tratado internacional contra a poluição por plásticos não avançaram em Genebra, com a proposta de rascunho sendo amplamente rejeitada a poucas horas do prazo final. O Brasil, inserido nessa discussão, enfrenta críticas de ambientalistas que apontam sua omissão nas conversas cruciais.
Depois de três anos de impasses, a principal questão gira em torno da necessidade de impor limites à produção de plástico ou simplesmente melhorar o gerenciamento do plástico já existente. Cerca de 100 países, que integram o grupo da alta ambição, defendem um tratado rigoroso que inclua restrições à produção e ao controle de produtos químicos nocivos. Por outro lado, países como Arábia Saudita, Rússia e Irã, apoiados pelos EUA e pela indústria química, opõem-se a qualquer limitação na produção, priorizando somente a gestão de resíduos.
O diplomata Luis Vayas Valdivieso, que preside as discussões, apresentou um texto de síntese que teve recepção negativa. O novo rascunho, conforme noticiado pelo The Guardian, apresenta apenas uma referência à produção sustentável, enquanto remove artigos essenciais sobre a produção e a vida útil dos plásticos. A diretora da Oceana, Lara Iwanicki, critica duramente a proposta, afirmando que ela não reflete a ambição necessária para enfrentar a poluição plástica.
A Colômbia e outros países latino-americanos, como Chile, México e Panamá, junto com a União Europeia, também consideraram o documento inaceitável. O ministro do Meio Ambiente da Dinamarca, Magnus Heunicke, destacou que o texto não aborda adequadamente os desafios urgentes que a crise da poluição plástica apresenta.
A coalizão Vida Sem Plásticos, que incorpora mais de 15 organizações brasileiras, se manifestou contra o texto, afirmando que ele promove um acordo simplista e ineficaz, que não aborda a redução da produção de plásticos problemáticos. Para esse grupo, o tratado em discussão poderia ser um marco histórico, mas acabou se transformando em um mero texto sobre gestão de resíduos.
Desde a aprovação de uma resolução pela Assembleia Geral da ONU em 2022, cinco rodadas de negociações ocorreram sem a definição de um consenso. Maria Angélica Ikeda, chefe da delegação brasileira, expressou preocupação com a rigidez de países desenvolvidos e a falta de clareza nas propostas do Brasil, que é um dos maiores poluidores de plásticos do planeta. Ela afirma que o país busca facilitar as negociações, mas especialistas indicam que a postura do Brasil em relação ao tratado é ambígua e omissa.
Iwanicki reforça a ideia de que o Brasil precisa se posicionar de forma mais assertiva, diante do fechamento do ciclo das negociações. "O Brasil ainda está muito em cima do muro. Já estamos no fim da negociação. O Brasil precisa mostrar as caras e sair de uma postura omissa, que é o que a gente tem visto até aqui, para realmente defender um tratado que tenha controle de produção,” afirma.
Com AFP.