As exportações brasileiras para a Argentina registraram um expressivo crescimento de 53% nos primeiros sete meses de 2024. Após uma queda acentuada de 17,6% no ano anterior, esse aumento promete aliviar, ainda que parcialmente, os efeitos das recentes tarifas impostas pelo governo dos EUA sobre produtos brasileiros.
A recuperação econômica da Argentina, impulsionada pela valorização do peso frente ao dólar, gerou um aumento nas compras de automóveis, que são o principal item exportado pelo Brasil para o país vizinho. No entanto, a professora Lia Valls, da Uerj e pesquisadora da FGV/Ibre, alerta que, apesar da recuperação, o crescimento nas exportações para a Argentina não é suficiente para compensar as perdas com o mercado americano: "As exportações para a Argentina são muito concentradas nos automóveis. Nem entramos com automóveis nos EUA", explica.
O alívio nas exportações para os EUA, afetadas pelo anunciando "tarifaço" do presidente Donald Trump, veio como uma boa notícia para o comércio exterior brasileiro. As vendas para a Argentina alcançaram US$ 10,780 bilhões no período de janeiro a julho, embora ainda estejam abaixo dos números de 2023. O Brasil e a Argentina são dois mercados cruciais para a indústria brasileira, notadamente por demandarem bens manufaturados em proporções superiores à média das exportações do Brasil.
A presença forte do setor automotivo enraizada na relação comercial entre os países se reflete nas estatísticas de 2024. A Anfavea, associação nacional dos fabricantes de veículos, ajustou para baixo sua projeção de vendas no mercado doméstico para 2,7 milhões de unidades, mas manteve estável sua expectativa de produção pela demanda argentina, com a previsão de exportar 552 mil carros, um aumento de 38,4% em relação ao ano anterior.
O presidente da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira de São Paulo, Federico Servideo, destaca o crescimento no número de argentinos comprando veículos no Brasil, impulsionado pela recuperação econômica da Argentina na segunda metade de 2024, que registrou um crescimento de 0,8% no primeiro trimestre. Além disso, a valorização do peso fez com que os produtos brasileiros se tornassem mais acessíveis, contribuindo também para a alta no fluxo de turistas argentinos ao Brasil e suas compras no varejo.
No entanto, Servideo alerta que esses fatores são conjunturais. Ele enfatiza a necessidade de uma revitalização mais profunda nas relações comerciais entre Brasil e Argentina, clamando por um maior envolvimento do empresariado e a simplificação das políticas públicas para remover burocrazias, como trâmites alfandegários e regulações industriais.
A recuperação das vendas argentinas poderá, em alguma medida, minimizar as perdas para o Brasil nas indústrias de calçados e máquinas e equipamentos. Segundo Osvaldo Ferreira, diretor-geral da Netzsch, fabricante alemã de bombas industriais, o redirecionamento de mercado dos EUA para outras regiões da América Latina pode acarretar um novo fluxo benéfico para as exportações brasileiras, com a recuperação argentina servindo como alavanca.