Otter.ai, desenvolvedora de ferramentas de transcrição e anotações baseadas em IA, é alvo de um processo coletivo na Califórnia devido a supostas violações de privacidade. A ação judicial, apresentada por Justin Brewer, morador de San Jacinto, alega que a aplicação está gravando conversas privadas sem obter o consentimento de todos os participantes das chamadas, utilizando essas gravações para treinar sua inteligência artificial.
De acordo com a queixa, Brewer não possui uma conta no Otter, mas participou de uma reunião no Zoom em fevereiro, onde o software Otter Notetaker estava ativo. Ele afirma que desconhecia que o serviço registraria e armazenaria seus dados ou que a chamada seria utilizada para treinar os modelos de reconhecimento de fala e aprendizado de máquina da empresa.
O processo judicial foca especificamente no Otter Notetaker, ferramenta responsável por gravar e transcrever em tempo real chamadas no Zoom, Google Meet e Microsoft Teams. Quando um usuário com conta Otter participa de uma reunião virtual, o software normalmente solicita ao anfitrião autorização para gravar, porém não verifica automaticamente com todos os outros participantes da chamada. Além disso, a ação alega que, se o anfitrião integrasse o Otter à sua conta do Zoom, Google Meet ou Microsoft Teams, um bot do Otter Notetaker poderia ingressar na reunião sem obter consentimento explícito, nem mesmo do anfitrião.
"É crucial que o Otter não obtenha consentimento prévio, expresso ou de outra forma, das pessoas que comparecem a reuniões onde o Otter Notetaker está ativo, antes de gravar, acessar, ler e aprender os conteúdos das conversas entre detentores de conta Otter e outros participantes da reunião", afirma a queixa, que foi divulgada inicialmente pela NPR. O processo ainda alega que as conversas dos usuários estão sendo utilizadas para treinar os modelos de IA do Otter em benefício financeiro da empresa.
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Um porta-voz da Otter.ai comentou à Gizmodo: "Enquanto estamos avaliando a situação, é importante notar que o Otter não inicia gravações por conta própria. A gravação só ocorre quando é iniciada por um usuário do Otter, e nossos Termos de Serviço deixam claro que os usuários são responsáveis por obter as permissões necessárias antes de fazê-lo".
O processo rebate esse argumento, acusando a Otter de desviar responsabilidade ao transferir suas obrigações legais para seus titulares de conta. Fundada em 2016 como AISense, a Otter.ai já conta com mais de 25 milhões de usuários e superou 100 milhões de dólares em receita recorrente anual.
Entretanto, antes mesmo desse processo, usuários já expressavam preocupações. No ano passado, por exemplo, um pesquisador de IA disse que o Otter gravou uma chamada no Zoom com investidores e posteriormente mandou a ele uma transcrição que incluía "detalhes íntimos e confidenciais" discutidos após sua saída da reunião. Politico também revelou que seu correspondente na China havia descoberto que a Otter compartilha dados de usuários com terceiros após usar o serviço durante uma entrevista com um ativista uigure.