O Desafio do Carnê de Conduzir
No verão passado, fui renovar meu carné de conduzir, um feito simples, mas complexo devido à data de validade: 18 de outubro de 2015. Com quase uma década de atraso, frequentei um centro médico, passei nas provas e, depois de muita expectativa, recebi um documento provisório que parecia selar um desafio que eu nunca havia conseguido vencer antes.
Uma Jornada de Tentativas e Fracassos
Minha história com a condução não é marcada pela facilidade. Inscrevi-me em duas autoescolas, fiz três testes teóricos e cinco práticos, mas a maioria foram fracassos. Sempre que o examinador se sentava atrás de mim, meu nervosismo era tão intenso que eu mal conseguia ligar o motor. Lembro-me claramente do alívio e da sensação de vitória no dia em que, finalmente, passei no teste prático.
O Clichê do Artista Distrato
Em uma série que assisti recentemente, o personagem, interpretado por Juan Diego Botto, diz que qualquer um pode aprender a dirigir, mas que seu doutorado em literatura medieval não o ajudou. Essa ideia de que pessoas mais inclinadas às artes frequentemente têm dificuldades práticas é um clichê ao qual me permiti refletir ao longo dos anos, apoiada em citações como a de Martin Amis: 'Os poetas não conduzem'.
Reflexões sobre o Saber Conduzir
Embora tenha sido tentadora a ideia de que certas mentes artísticas possam sofrer de uma incapacidade prática, lembrei-me também de poetas que dirigem com destreza. Isso me levou a questionar se havia uma relação entre vocações e habilidades práticas, um dilema que muitas vezes se apresenta na forma de "tarefas impossíveis" que deixamos para depois.
A Insegurança de Conduzir
Durante toda a minha vida, ouvi recomendações sobre a importância de dirigir como uma forma de conquistar liberdade. Meus esforços foram em vão; nunca consegui deixar o estacionamento. A perspectiva de dirigir em uma rua com a possibilidade de meu carro engasgar era assustadora o suficiente para me impedir de tentar. Anos atrás, antes do carné expirar, inscrevi-me em outra autoescola, mas, mais uma vez, não obtive sucesso.
A Aceitação de Quem Somos
Talvez seja necessário compreender que o que me levou a procrastinar essa habilidade foi a resistência a ser o que realmente sou. Agora, ao buscar meu novo carné, percebo que, talvez, nunca tenha realmente desejado aprender a dirigir. Aceitar isso é parte do amadurecimento e da tranquilidade de aceitar a própria natureza.
Laura Ferrero é escritora e guionista. Seu último livro é Los astronautas (Alfaguara), e seu último filme, Un amor, de Isabel Coixet.