Uma operação da Polícia Federal que mira o Comando Vermelho (CV) expôs uma possível rede de corrupção interna, com o delegado Gustavo Stteel preso por suposta passagem de informações sigilosas sobre um colega que investigava o CV. A investigação, denominada Operação Zargun, também aponta contatos ilícitos entre Stteel e Luiz Eduardo da Cunha Gonçalves, conhecido como Dudu, ligado ao deputado TH Joias.
A foto do delegado responsável pelo inquérito que investiga a cúpula do CV, encontrada numa troca de mensagens entre dois alvos da Operação Zargun — deflagrada na última quinta-feira (04/09) —, acendeu o sinal de alerta na Polícia Federal. O nível de articulação da organização criminosa, que inclui núcleos de chefia, político, logístico e operacional, contava ainda com o delegado da PF Gustavo Stteel, suspeito de repassar dados sigilosos de um colega lotado na Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). Stteel é investigado por corrupção e violação de sigilo funcional. TH Jóias: deputado é acusado de fazer câmbio para o tráfico e ser um dos chefes do Comando Vermelho
\nNinguém que me deve sai impune\n
Nesta linha do tempo, relatos indicam que a frase é atribuída a um agiota ao irmão de uma mulher morta, que também devia a ele. Tudo começou a partir de um diálogo entre o traficante Gabriel Dias de Oliveira, o Índio, e Luiz Eduardo da Cunha Gonçalves, o Dudu, ex-assessor parlamentar do deputado estadual TH Joias (sem partido) — ambos presos na operação. Os três foram alvos da PF, que cumpriu 18 mandados de prisão preventiva e 22 de busca e apreensão contra acusados de integrar a facção. Na conversa pelo WhatsApp, Índio pede a Dudu que procure Sttteel para obter informações sobre a prisão de duas mulheres flagradas com R$ 449 mil em mochilas na Rodoviária Novo Rio, em 5 de dezembro de 2023. As mulheres, que seguiam para São Paulo, foram presas pela PF. Índio enviou um print da notícia e os nomes das detidas para checar o que a Polícia havia apurado. Na sequência, Dudu informou que iria almoçar com o delegado. Segundo relatório do Ministério Público Federal, apenas após esse encontro o ex-assessor parlamentar de TH Joias teve acesso à foto do delegado que investigava as mulheres e conduzia o inquérito sobre o Comando Vermelho. A imagem, de acordo com a PF, foi levada para reconhecimento pelas presas. Índio então faz um pedido: — “Aí você fala pro Stteel aí. Que todo mundo que foi preso falou que foi o doutor (cita o nome dele), todas as pessoas.”
\nPara a PF, o episódio evidencia “o nível de entrosamento entre os comparsas e a gravidade da situação”, como registrado em relatório do MPF: — “Não precisa de muito esforço para deduzir o grau de exposição do delegado, o risco a que está submetido, tudo isso com o apoio de alguém de dentro da própria instituição policial.” E prossegue: — “A cooptação de agentes públicos pela facção criminosa é uma estratégia recorrente, que tem como objetivo preservar o grupo das ações do Estado contra o crime organizado, além de viabilizar a própria operacionalidade do esquema, por exemplo, no transporte de cargas ilícitas de drogas, armas e dinheiro.”
\nAs investigações da PF e do MPF concluíram que Stteel e Dudu “trocavam favores ilícitos”. O relatório aponta que ambos planejavam abrir uma sociedade comercial, “o que evidencia a proximidade entre eles”. Além das informações sobre o delegado que investigava o caso, o suspeito pesquisava e repassava informações sobre as investigações ligadas ao Comando Vermelho. No pedido de prisão, os procuradores destacaram que o delegado tinha “aptidão para práticas criminosas”, representando risco em liberdade. Não é a primeira vez que Stteel aparece em escândalos. Em 2008, ele foi preso na Operação Resplendor, da Polícia Federal, por integrar uma quadrilha acusada de adulterar combustíveis e sonegar impostos no Sul Fluminense e em São Paulo. O “consórcio do crime” reunia 29 policiais federais, civis e militares. À época, apurou-se que recebiam R$ 50 mil mensais em propinas para fazer vista grossa às atividades do grupo. Stteel foi novamente preso na última quinta-feira, durante o plantão na delegacia do Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio. Em suas redes sociais, costumava ostentar relógios de luxo, como Rolex, e viagens internacionais. Entre as últimas postagens antes da prisão, aparece a foto de sua noiva, Bruna Karoline, pós-graduada em Direito Penal Militar, exibindo um anel de noivado dado por ele. A joia foi confeccionada pela ourivesaria do deputado TH Joias, suplente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), preso na mesma operação. Em nota, a defesa de Stteel diz que “nos autos da investigação não há elemento que sustente as acusações, mas tão somente interpretações de diálogos de terceiros, travados sem a anuência ou participação do delegado” e as supostas informações, cuja divulgação é atribuída ao Delegado de Polícia Federal Gustavo Stteel, são públicas, não foram extraídas através de sistema interno da Polícia Federal e poderiam ser acessadas por qualquer cidadão.