Muitas companhias aéreas em todo o mundo enfrentam uma séria crise devido à escassez de pilotos experientes, o que tem gerado desafios significativos à medida que a demanda por viagens aéreas aumenta. Grandes bônus e promoções podem ser medidas eficazes para compensar a onda de aposentadorias que está ocorrendo, mas a situação ainda é crítica. Desde o início da pandemia de Covid-19, muitos países suspenderam o treinamento de novos pilotos, o que resultou em um atraso e dificuldades nas escolas de voo para colocar novos profissionais no mercado.
Além disso, a pandemia levou muitos pilotos experientes a se aposentarem de maneira inesperada, especialmente na América do Norte, criando um cenário de duplo desafio para as companhias aéreas que precisam não apenas preencher as vagas deixadas pelas aposentadorias, mas também aumentar sua equipe em um momento de crescimento na demanda, principalmente por viagens de lazer.
Um Crescimento Surpreendente na Demanda
O crescimento atual da demanda por viagens aéreas mudou a perspectiva do setor, conforme apontado por Christoph Klingenberg, especialista em gestão de companhias aéreas. Com o prolongado tempo necessário para o treinamento de pilotos, a normalização dessa situação poderá levar alguns anos. Nos Estados Unidos, estima-se que surgirão cerca de 18.200 vagas para pilotos anualmente na próxima década, apontando para a necessidade de mais de 180 mil novos pilotos para atender a demanda.
A fabricante de aeronaves Boeing também reconhece o problema, projetando a necessidade de 660 mil novos pilotos comerciais globalmente até 2044. A formação de novos pilotos, no entanto, requer um investimento substancial, com custos que podem ultrapassar R$ 400 mil no Brasil e mais de 100 mil dólares nos Estados Unidos, estimativas que podem desencorajar novos aspirantes a pilotos. Para se tornar um piloto, a obtenção do Certificado de Piloto de Transporte Aéreo (ATP) exige experiência de voo adicional que pode levar de um a dois anos para ser completada.
Atraindo Pilotos com Salários Competitivos
Para fazer frente à escassez, muitas companhias aéreas estão aumentando os salários para atrair e reter pilotos. Dan Bubb, especialista em aviação, observa que os salários dos pilotos estão em um patamar mais alto do que nunca, particularmente nas companhia aéreas regionais, onde anteriormente eram notavelmente baixos. Além de salários mais altos, as companhias também estão oferecendo bônus e criando horários mais equilibrados para ajudar a reter talentos. Contudo, essa estratégia também resulta em aumentos nos preços das passagens.
Recentemente, pilotos da Lufthansa votaram a favor de uma greve devido a desacordos sobre contribuições previdenciárias, evidenciando a tensão no setor. Esta seria a primeira greve na companhia desde 2022.
Questões sobre Idade de Aposentadoria
A discussão sobre a idade de aposentadoria dos pilotos também está em pauta. As regras anteriores estipulavam uma aposentadoria obrigatória aos 60 anos, que foi aumentada para 65 anos em 2006. Agora, com a escassez de pilotos, alguns defendem um novo aumento para 67 anos, considerando que a experiência dos pilotos está ligada à segurança nas operações. No entanto, essa proposta enfrenta resistências, especialmente de sindicatos.
Alternativas para Atração de Novos Pilotos
Para enfrentar a escassez, é vital que as companhias aéreas intensifiquem seus esforços de recrutamento e expandam suas capacidades de treinamento. Klingenberg sugere que as companhias aéreas estão contratando pilotos com menos horas de serviço, oferecendo incentivos atrativos, mas enfatiza que os novos recrutados ainda precisam passar por treinamentos rigorosos.
A Automação Pode Ser a Solução?
A implementação de inteligência artificial (IA) na aviação tem sido considerada, mas muitos no setor ainda hesitam. Klingenberg não acredita em mudanças rápidas nessa direção nos próximos anos. Embora a IA possa otimizar a operação, o papel dos pilotos humanos permanece essencial. Ele espera que as condições melhorem até 2030, enquanto Bubb vê a escassez de pilotos como uma oportunidade para as companhias aéreas se prepararem melhor para desafios futuros.