A região de Aparecida de Goiânia, localizada na Região Metropolitana da capital, destaca-se como a área com a maior concentração de motéis da América Latina, mas enfrenta um cenário desafiador. Nos últimos dois anos, aproximadamente 35% dos estabelecimentos da região, que já contou com 40 motéis em 2023, fecharam as portas, reduzindo este número para apenas 26 ativos atualmente.
Segundo Michael Alves, proprietário de um motel e membro do conselho da ABMotéis, a situação atual reflete uma divisão marcante entre a nova e a velha motelaria. Ele explica que a falta de adaptação às novas exigências dos consumidores tem contribuído para essa decadência. "Nós temos que fazer o nosso dever de casa. As pessoas querem sair de casa para ir a um lugar melhor do que onde vivem", afirma Alves.
As motivações por trás do fechamento de motéis na região são complexas. Conforme o economista André Braz, da Fundação Getúlio Vargas, os motéis enfrentam um aumento dos custos operacionais, uma vez que dependem de energia, água e serviços como lavanderia, que se tornaram mais caros nos últimos anos, além de lidarem com uma carga tributária pesada.
Adicionalmente, a mudança nos hábitos de consumo da população também desempenha um papel crucial. "As pessoas têm buscado novas formas de lazer e viagens, o que reduz a frequência nos motéis", revela André. O surgimento de plataformas de aluguel por temporada oferece aos consumidores alternativas que competem diretamente com os serviços tradicionais de motel.
No entanto, a motelaria também está se reinventando. Dados da ABMotéis indicam que 85% dos frequentadores de motéis são pessoas em relacionamentos estáveis. Rafael Albernaz, administrador e sócio de um motel, sugere que os empresários estão tentando desvincular a imagem dos motéis, tradicionalmente associados à atividade sexual, e focar em oferecer serviços que atraiam diferentes perfis de clientes. “As pessoas procuram um local para fugir da rotina. Por isso, ter uma cama confortável, bom serviço de quarto, opções de lazer e uma alimentação de qualidade são essenciais”, diz Rafael. Tecnologia como internet de alta velocidade e sistemas de som também são fatores que estão se destacando como diferenciais positivos para os clientes.
Após a pandemia, o comportamento dos clientes mudou, e a preferência por menos contato humano começou a ser notada. Motéis que investiram em aplicativos de reservas e serviços que minimizam a interação pessoal conseguiram captar melhor esta nova demanda. Os visitantes agora podem escolher quartos e fazer pedidos de alimentação sem necessidade de interação direta com a equipe.
A gastronomia também se tornou um foco importante. Michael Alves destaca que seu motel oferece pratos exclusivos assinados pelo chef André Barros. Isso não apenas melhora a experiência do cliente, mas também demonstra um investimento na qualidade do serviço prestado. Ele notou um crescimento significativo em seus negócios, com um dos empreendimentos registrando um aumento de 15% e outro de 35% após reformas e reposicionamento no mercado.
Enquanto a redução de motéis na região gera preocupações para o setor, as inovações e adaptações que estão sendo implementadas podem oferecer novos caminhos para reviver essa importante indústria do turismo em Aparecida de Goiânia.