Crescimento Econômico do Brasil: Uma Nova Perspectiva
Uma nova pesquisa sobre a história econômica do Brasil, que abrange o período de 1820 a 1980, vai contra a ideia amplamente aceita de que o país teve o maior crescimento mundial, apenas atrás do Japão, entre 1900 e 1980. O estudo, que foi publicado no Journal of Iberian and Latin American Economic History, com a colaboração de Guilherme Tombolo e Flávio Versiani, sugere uma reavaliação do crescimento do Brasil, afastando-se da narrativa de estagnação no século XIX e do suposto "milagre econômico" no século XX.
Desmistificando o Crescimento do Século XX
A pesquisa, que dá continuidade a um trabalho anterior sobre a evolução econômica do país, revela que a trajetória de crescimento do Brasil foi mais congruente com os padrões europeus no século XIX e, embora robusta no século XX, não alcançou um desempenho milagroso como anteriormente pensado. Segundo o estudo, a narrativa tradicional − que sempre retratou o século XIX como um período de estagnação, seguido de um avanço extraordinário em anos posteriores − precisa ser corrigida.
Dados Sobre Crescimento no Século XIX
O estudo aponta que o crescimento da economia brasileira no século XIX foi mais alinhado ao crescimento da Europa Ocidental e de outros países latino-americanos. Novas análises têm sugerido que, entre 1821 e 1850, as exportações no Brasil cresceram a uma taxa de 3,5% ao ano, superando o crescimento populacional e desafiando a noção de que o país estava estagnado nesse período.
Análise do Século XX e Mudanças Metodológicas
Embora já houvesse dados disponíveis para o século XX, mudanças metodológicas na compilação de contas nacionais em 1969 distorceram os números de crescimento, com a exclusão de setores importantes. O IBGE, ao assumir as contas em 1986, recalculou os dados, resultando em um crescimento per capita significativamente menor do que o apresentado anteriormente.
Revisando a História Econômica Brasileira
As revisões feitas mostram que, de 1947 a 1980, o crescimento do PIB per capita foi de apenas 3,3% ao ano, comparado a uma taxa oficial de 4,2%. Mesmo com esses números revisados, a economia teve um desempenho positivo, impulsionado pela industrialização e pela migração rural-urbana.
Sinais de Advertência para o Futuro
A análise traz à tona a necessidade urgente de reescrever a história econômica do Brasil. O crescimento contínuo exige uma compreensão clara e realista, livre de ilusões sobre um milagre econômico que nunca se concretizou. Ao entender melhor essa trajetória, o Brasil pode evitar erros do passado e focar em um desenvolvimento sustentável e realista.
*Edmar Bacha é economista