No atual cenário político brasileiro, a indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal (STF) por Lula acirrou discussões sobre gênero e ideologia. O critério de proximidade política empregado na escolha gerou um clamor por uma mulher na laura, mas também críticas referentes à exclusividade de perfis progressistas nesse debate.
Jorge Messias, atual ministro da Advocacia-Geral da União e homem de confiança do presidente, é visto como opção preferencial. Esta escolha, que lembra a nomeação do ex-ministro André Mendonça durante o governo Bolsonaro, levanta a questão: a proximidade ideológica deve prevalecer sobre a diversidade de gênero na mais alta corte do país?
Um dos grupos que mais descontentes têm com essa possível escolha são parlamentares que desejam que o indicado seja alguém do seu círculo próximo, como o ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Já os movimentos sociais que lutam pela inclusão feminina na Cúpula da Justiça enfatizam que a indicação de uma mulher é um verdadeiro imperativo democrático, refletindo uma maior diversidade e uma representação mais fiel da sociedade.
Entretanto, é crucial questionar se, para esses movimentos, qualquer mulher qualificada seria suficiente. Uma juíza com ideais bolsonaristas, por exemplo, seria aceita? Ou uma procuradora de tendência evangélica? Um fato interessante é que o pentecostalismo representa mais da metade dos evangélicos no Brasil, que por sua vez correspondem a cerca de um terço da população, o que tornaria uma advogada dessa vertente uma escolha bastante representativa, mesmo que não alinhada aos ideais progressistas predominantes.
Contudo, a maioria das sugestões apresentadas por movimentos sociais tende a se centrar em mulheres que compartilham de suas ideologias, excluindo automaticamente alternativas que poderiam enriquecer o debate sobre representatividade. Essa prática não é apenas restrita ao STF. A premiação de María Corina Machado, uma mulher venezuelana de direita, com o Nobel da Paz, foi amplamente ignorada pelas principais organizações feministas do Brasil.
Vale recordar que o apoio a iniciativas que visem romper barreiras para o acesso de mulheres a espaços dominados por preconceito é fundamental. Apesar de ser legítimo que os movimentos progressistas que lutam pelos direitos delas busquem fortalecer sua representação na Corte, o problema surge quando se fala em nome das mulheres, enquanto na prática se refere apenas a aquelas que compartilham sua visão ideológica. Quando isso acontece, o discurso sobre representatividade se transforma em uma retórica que beneficia apenas uma parte, ocultando as complexidades e diversidades que o próprio gênero feminino abraça.