Don Burnette, Raquel Urtasun e Dave Ferguson, líderes no setor de tecnologia de direção autônoma, acumulam quase cinco décadas de experiência combinada. Em uma entrevista ao Business Insider, eles discutem o estado atual da autonomia e o que realmente é necessário para escalar essa tecnologia. Em suas falas, desafiam algumas suposições amplamente aceitas sobre veículos autônomos.
O frenesi por inteligência artificial revitalizou o interesse em veículos autônomos, gerando debates intensos sobre como as empresas podem implementar esses veículos em larga escala. Os CEOs reunidos nesta conversa incluem Don Burnette, CEO da Kodiak, Dave Ferguson, cofundador e co-CEO da Nuro, e Raquel Urtasun, fundadora e CEO da Waabi. Burnette destaca que a Kodiak já opera oito caminhões autônomos no Permian Basin, transportando areia para fracking. A Waabi planeja colocar caminhões totalmente autônomos nas ruas até o final deste ano em parceria com a Volvo, enquanto a Nuro pretende competir com a Waymo ao implementar robô-táxis com a Uber em 2026.
Tecnologia Não é Mais o Gargalo
Os três CEOs concordam: a direção autônoma é uma tecnologia comprovada. Para eles, a funcionalidade da tecnologia não está mais em disputa. "Todos focam na tecnologia. Eu diria que 99% do foco está nela", afirma Burnette. "Estamos além do ponto em que a tecnologia é a dúvida. Agora, a questão é o caminho para lucratividade, margem bruta positiva e escalabilidade." Apesar disso, Ferguson, co-CEO da Nuro, menciona que ainda existem desafios técnicos a serem superados, como a expansão da direção autônoma para condições climáticas adversas, especialmente a neve. "É algo que muitos de nós esperamos abordar, pois há uma grande oportunidade antes de precisarmos enfrentar a neve", ele diz, acrescentando que confia na capacidade de resolver esse desafio no futuro.
Milhas Percorridas Não Comprovam Prontidão
Um indicador frequentemente utilizado na indústria de veículos autônomos é o número de milhas percorridas por veículos autônomos, apresentado como um sinal de avanço da tecnologia. Para Urtasun, esse número revela apenas a antiguidade da empresa. "Não tem relação com os avanços da tecnologia", afirma. Para ela, utilizar milhas percorridas para argumentar que caminhões autônomos são mais seguros que humanos não é suficiente. Apesar de não haver fatalidades relatadas envolvendo caminhões autônomos, Urtasun observa que o número de milhas dirigidas ainda é muito pequeno para fazer comparações de segurança significativas. "Se você olhar para o número de milhas que um player na indústria de caminhões autônomos já dirigiu, são milhões em números singulares. Isso não prova nada", completa.
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A Distância Entre Direção Assistida e Totalmente Autônoma é Grande
Embora existam empresas como Tesla e Wayve que almejam a autonomia total, Ferguson acredita que a lacuna entre a direção assistida e a autonomia plena é significativa. Ele afirma que mesmo com uma base similar de inteligência artificial entre sistemas de nível 2 e de nível 4, afirmar que um sistema pode operar sem um motorista é um grande desafio. Ferguson recorda os primeiros dias do projeto de direção autônoma do Google, que começou sua jornada em 2011, e diz que levou cerca de cinco anos até que a primeira milha autônoma fosse concluída. Na Nuro, a empresa opera veículos totalmente autônomos nas ruas há mais de cinco anos, mas ainda há muito trabalho pela frente para escalar essa operação.
O Debate sobre Lidar e Câmeras é uma Distração
A discussão sobre quais sensores devem ser utilizados em veículos autônomos, entre lidar, radar e câmeras, tem sido acalorada, especialmente com Elon Musk defendendo uma abordagem apenas com câmeras. Os CEOs entrevistados utilizam lidar, mas não o defendem como um dogma, e sim como uma questão de custo e segurança. "É muito uma questão de ROI", observa Ferguson, ressaltando que mesmo que se possa ter um sistema que funcione bem com câmeras, adicionar lidar pode aumentar significativamente a segurança do sistema. Para Burnette, esse debate é uma "grande distração", que desvia o foco do que é realmente importante, como a viabilidade econômica e a demanda do cliente. Ele conclui que o conjunto de sensores mudará e evoluirá com o tempo.

