A prefeitura do Recife anunciou o projeto denominado "Distrito Guararapes", que contempla a concessão de uma área histórica do bairro de Santo Antônio à gestão privada por 30 anos. Esta iniciativa abrange 14 hectares e exige um investimento de R$ 300 milhões em obras de requalificação e na manutenção urbana. De acordo com a proposta, a concessionária precisa reformar 14 imóveis inativos que serão desapropriados pela prefeitura.
Localizada no Centro do Recife, a área em questão abriga importantes joias arquitetônicas e conta com 35 quadras e 14 imóveis ao redor da Avenida Guararapes e da Praça da Independência. Apesar das promessas de revitalização, a proposta gerou preocupações entre especialistas que questionam a verdadeira eficácia das intervenções planejadas.
O "Distrito Guararapes" foi apresentado ao público em uma audiência no dia 29 de outubro, complementando a consulta pública online aberta pela prefeitura para colher sugestões da sociedade civil, que se encerrará nesta terça-feira. Posteriormente, a proposta será analisada pelo Tribunal de Contas do Estado.
O vencedor da licitação, que pode ser uma única empresa ou um consórcio, deverá investir os R$ 300 milhões em melhorias, que incluem a construção de 873 unidades habitacionais – doze destinadas ao uso residencial e um cada para uso comercial e construção de um edifício-garagem. A expectativa é que o preço médio dos apartamentos chegue a R$ 310 mil, com 66% deles se enquadrando na faixa 3 do programa Minha Casa, Minha Vida.
O secretário municipal de Planejamento, Felipe Martins Matos, destacou que a empresa vencedora terá o direito de explorar imobiliariamente as unidades como contrapartida pelos investimentos feitos. A proposta é não só revitalizar a área, mas também garantir a manutenção pelos 30 anos do contrato.
Em relação ao que vai ocorrer nas áreas públicas, estão previstas melhorias como novos calçamentos, ciclovias, estações de BRT e até um palco flutuante para eventos culturais sobre o Rio Capibaribe, devendo todas as obras serem entregues em um período de seis anos.
Contudo, especialistas têm manifestado suas preocupações sobre o impacto do projeto nas práticas de preservação de patrimônio histórico e no aumento da especulação imobiliária. A historiadora Mariane Zerbone, da UFPE, observou que toda requalificação deve considerar as nuances da cidade e evitar a saturação do mercado imobiliário, que pode afetar negativamente a vida dos moradores atuais do bairro, que já enfrentam desafios como o aumento da violência e a falta de investimentos na região.
O urbanista Pedro Valadares também enfatizou que a participação da comunidade no processo é crucial para garantir que os laços históricos dos moradores com o bairro não sejam rompidos. Assim, a execução do projeto do "Distrito Guararapes" continua a ser um ponto de debate no Recife, balanceando possibilidades de revitalização com os riscos para os residentes locais.