Movimentações suspeitas envolvendo fundos previdenciários no Rio de Janeiro
Um grupo vinculado ao partido União Brasil, responsável pela gestão de dois institutos de previdência no estado do Rio de Janeiro, está sendo investigado por sua relação com o Banco Master, que é alvo de investigações por gestão fraudulenta. A investigação revela que mais de R$ 1 bilhão foi movimentado em papéis do banco, levantando suspeitas sobre as transações realizadas sob a liderança de Fernanda Machado.
As transações ocorreram entre novembro de 2023 e julho de 2024 e envolveram o Rioprevidência e o fundo de previdência de Itaguaí (Itaprevi). Coincidentemente, as aquisições começaram poucos dias após Fernanda Machado assumir a presidência do Itaprevi, o que levanta questões sobre a probidade do processo de decisão.
Antes de ser nomeada presidente do Itaprevi, Fernanda participou do credenciamento do Banco Master pelo Rioprevidência, estratégia que possibilitou a canalização de investimentos estaduais em papéis desse banco. Ela ocupou o cargo de gerente de controle interno do Rioprevidência durante a gestão de Deivis Marcon Antunes, que foi indicado pelo União Brasil.
Documentos revelam que, após sua saída do Rioprevidência, na qual ainda participou da aprovação de investimentos no Banco Master, a presidente do Itaprevi conseguiu na sequência aprovar aportes a essa mesma instituição financeira. Entre os meses de junho e julho de 2024, foram registrados aportes significativos em letras financeiras do Banco Master, enquanto o Rioprevidência finalizava seus R$ 970 milhões em aplicações na mesma empresa.
Por outro lado, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) fez observações sobre as “notáveis coincidências” entre os investimentos e as nomeações, o que gera ainda mais suspeitas sobre a lisura das operações realizadas.
Em uma reunião do conselho de previdência de Itaguaí, em dezembro de 2024, já havia sinais de alerta sobre a situação financeira crítica do Banco Master. Documentos da reunião indicam que a presidente do Itaprevi se justificou, afirmando que os investimentos foram realizados em caráter emergencial devido a um “prazo apertado para atingir a meta de investimentos”. Fernanda também solicitou que fossem incluídas na ata as respostas do Rioprevidência, instituição da qual havia saído recentemente e que também estava sob investigação.
Em resposta aos questionamentos, Fernanda Machado negou qualquer intervenção nas decisões do Itaprevi e destacou que os processos de investimento tiveram início antes de sua gestão. Além disso, ela entrou em contato com o Ministério Público e o Tribunal de Contas da União (TCU) para solicitar uma intervenção que revisasse as ações do Banco Central em relação ao caso do Banco Master, alegando falhas na fiscalização que puderam induzir os fundos de previdência a realizarem investimentos inadequados.
— Nada disso ocorreria sem um pacto silencioso de omissão, sem um apagão regulatório — afirmou a advogada.
A situação revela um quadro preocupante, pois além da tensão gerada pelas movimentações financeiras suspeitas, há questões de governança e transparência que afetam a confiança nas instituições previdenciárias no estado do Rio de Janeiro. Os laços entre os protagonistas das transações e o partido União Brasil ampliam a complexidade do caso, que agora aguarda desdobramentos legais e administrativos.
Outros membros da administração e aliados de Deivis, que dirigia o Rioprevidência, também foram implicados nas movimentações. Alguns deles atuaram no Refer, um fundo de previdência destinado ao setor ferroviário, e agora enfrentam ações judiciais. O ex-secretário de Transportes do governo do Rio, André Luiz Nahass, que também possui ligações com Deivis, é um dos investigados na situação, ao lado de outros cargos de confiança que foram indicados pelo União Brasil.
O desenrolar dessa investigação poderá proporcionar um maior entendimento das práticas em uso nas gestões dos institutos de previdência e suas implicações para os aposentados e inativos do estado.