Kast no Chile: Expectativas e Desafios para a América Latina
O ultradireitista José Antonio Kast, do Partido Republicano, venceu a comunista Jeannette Jara no segundo turno das eleições chilenas, marcando uma transição significativa na política do país. Com 58% dos votos válidos, Kast assumirá a presidência, sucedendo Gabriel Boric, representante de uma esquerda que, segundo muitos, não respondeu à altura às expectativas populares.
A vitória de Kast não é uma unanimidade. No primeiro turno, ele obteve apenas 24% dos votos, e sua ascensão se deu em grande parte pela transferência de votos dos candidatos de centro e de direita que não chegaram à etapa final. Isso indica que muitos eleitores o viram como a opção menos desfavorável, o que poderá influenciar o seu governo a adotar uma abordagem mais moderada em suas práticas.
O perfil de Kast é marcado por um discurso enfático contra imigrantes e uma abordagem rígida à segurança pública, que o fez ressoar com uma população em busca de segurança. Entretanto, para que seu governo seja bem-sucedido, será necessário que ele compreenda o ânimo do povo chileno, que, embora tenha mostrado uma preferência por uma mudança, parece não querer uma radicalização extrema.
As ruas do Chile clamam por políticas eficazes, não apenas por promessas populistas. O desafio de Kast será implementar ações concretas na área da segurança, sem se apegar a uma retórica que pode afastar uma parte significativa da população que anseia por soluções práticas e moderadas.
Histórico e Comparações
A trajetória política recente do Chile é marcada por extremos. Gabriel Boric, que venceu no primeiro turno de 2021, foi apoiado por uma assembleia constituinte que, em sua proposta de reforma, acabou afastando muitos eleitores ao apresentar um texto considerado excessivamente alinhado com ideais radicais. A posição rejeitada nas urnas levou Boric a buscar uma nova forma de governar, mais alinhada ao centro.
Se Kast não quiser repetir os erros de Boric, precisará evitar manobras que possam alienar ainda mais sua base. A capacidade dele de negociar com o Congresso será essencial, pois ficará claro que algumas das suas promessas mais extremas, como o aumento do poder das Forças Armadas no país, enfrentarão resistência.
Impacto na América Latina
A vitória de Kast acende um alerta para os países vizinhos na América Latina, onde a polarização política tem avançado. A ascensão de discursos extremistas pode reverter décadas de progressos democráticos. O Chile, uma vez modelo de estabilidade e democracia, enfrenta agora o desafio de preservar suas instituições.
Na Europa, Kast poderá olhar para exemplos tanto negativos quanto positivos. A ascensão de Viktor Orbán na Hungria representa um modelo de autocracia no qual instituições são manipuladas para sustentar um governo autoritário. Por outro lado, a trajetória de Giorgia Meloni na Itália ilustra como um líder pode mudar suas posturas ao assumir o poder e, assim, governar de forma pragmática e moderada, especialmente sobre questões como a imigração.
O futuro da política chilena e seu impacto na América Latina dependerão, em grande medida, da habilidade de Kast de governar com moderação e eficácia, em vez de radicalismos que podem levar o país a uma maior polarização e insegurança.