Enchente na comunidade Locomotiva deixa 1.250 pessoas desalojadas em Ribeirão Preto
A comunidade Locomotiva, localizada na zona Norte de Ribeirão Preto (SP), foi severamente atingida pelas chuvas do último fim de semana, resultando em enchentes que afetaram cerca de 1.250 moradores. Após a inundação, muitos residentes perderam alimentos, móveis e outros pertences. A Prefeitura de Ribeirão Preto informou que equipes estão no local, mas, por tratar-se de uma área ocupada, não há previsão de obras para solucionar a situação.
No dia 13 de outubro, vídeos que circularam nas redes sociais mostraram ruas inundadas, com água invadindo as casas e acumulando lixo. Estima-se que aproximadamente 370 famílias estejam vivendo na comunidade, totalizando cerca de 2,5 mil residentes. Rosineide Jacinto da Silva, uma das moradoras afetadas, relatou a dificuldade em lidar com as enchentes recorrentes: “Tem dez anos que eu estou aqui e cada vez está ficando pior a chuva. A gente perde tudo. Eu perdi geladeira, perdi tudo, e estou à mercê de Deus”.
Cada morador tentou salvar o que podia do alagamento. Em um dos vídeos que circularam nas redes sociais, um homem improvisou uma embarcação para navegar pelas ruas alagadas. Vanacir Cassiano Correia, aposentado e residente da comunidade, compartilhou sua indignação: “A hora que a enchente desceu aqui, não deu nem meia e encheu tudo. Ela nos pegou de surpresa. Se chovesse mais uns cinco minutos, a coisa ia ficar mais feia ainda”. Fátima Donizete Barros, outra moradora, disse que a situação se torna insustentável a cada chuva: “Com o pagamento que eu recebi do auxílio, eu comprei [alimentos] e agora molhou. Não tem como fazer. A água que vem da rua é muito suja, então não tem como fazer para comer a comida. Tem muita bactéria na água, muita sujeira.”
O líder comunitário Platinir Nunes expressou preocupação com a persistência do problema: “Isso é uma novela cantada. Há dez anos vem acontecendo e precisava resolver urgente. Já vamos entrar no 11º ano e a fala é a mesma”. Segundo a Prefeitura de Ribeirão Preto, o terreno da comunidade é baixo, o que facilita os alagamentos. A Secretaria Municipal de Infraestrutura está realizando a limpeza da área afetada, mas ainda não há um plano definido para resolver o problema das enchentes permanentemente. O subsecretário de Infraestrutura, Eduardo Greggi, afirmou: “É um ponto que necessita de algum tipo de obra para conter essa água para que ela não chegue na Locomotiva. Eu desconheço essa previsão [para a obra ser feita], porque isso é tratado com a Secretaria de Planejamento e com a Secretaria de Obras”.
O sociólogo Gabriel Papa avaliou a situação como gravíssima, ressaltando que o direito à moradia digna está garantido pela Constituição Brasileira. “Cadê as análises técnicas de engenheiros para esse bairro, que pudessem pensar coleta de águas pluviais, que pudessem pensar infraestrutura? Se isso não é possível, cadê o projeto da prefeitura dos governos anteriores e do atual para organização e realocação dessa população em uma área de menor vulnerabilidade ou nenhuma vulnerabilidade?”, questionou.
A Prefeitura de Ribeirão Preto destacou que, devido à condição de ocupação irregular da área, não pode realizar obras de pavimentação nem implantar serviços de drenagem na comunidade. No entanto, a administração mencionou que tem trabalhado para minimizar os alagamentos e também fez doações de colchões e cestas básicas para as famílias afetadas pela chuva.
A comunidade Locomotiva permanece em situação de vulnerabilidade, aguardando soluções que garantam a segurança e a dignidade de seus moradores.