Falta de medicação compromete tratamento de hemodiálise em Campinas
Pacientes da região de Campinas (SP) enfrentam uma grave crise de abastecimento de medicamentos essenciais para hemodiálise e transplantes, com escassez que perdura por quatro meses na Farmácia de Alto Custo. Os medicamentos afetados incluem eritropoetina, sevelamer, paracalcitol, cinacalcete e sacarato de ferro, fundamentais para a manutenção da saúde renal.
Christian Deutsch, um dos pacientes afetados, expressou sua frustração em relação à situação. Ele faz quatro sessões de hemodiálise por semana e, diante da falta de medicamentos, precisou reduzir suas doses. "É uma questão de tempo para que os resultados ruins comecem a aparecer", diz Christian, ressaltando a situação crítica que a falta de medicação representa para os pacientes. Ele destaca que, em muitos casos, a morte de um doente renal está mais relacionada a problemas cardíacos do que à própria função renal. "Me sinto impotente, e ao mesmo tempo, revoltado", completa.
A médica nefrologista Alessia Mambrini, que atende cerca de 160 pacientes na clínica onde trabalha, confirma o dilema enfrentado pelos pacientes. O racionamento se tornou a única alternativa para muitos, mas acarreta riscos elevados de hospitalização e complicações cardiovasculares. "Muitos pacientes precisam receber transfusões de sangue devido à falta de medicamentos que corrigem a anemia", afirma a médica.
De acordo com a nefrologista, sua equipe tem tentado fracionar os medicamentos disponíveis para prolongar o tratamento, mas isso tem resultado em subtratamento para muitos pacientes. Esse cenário não permite uma assistência de qualidade para os que necessitam de cuidados contínuos.
Medicamento custoso e escasso
Anna Paula Renelt, que realizou um transplante de rins há 20 anos, depende do cinacalcete, um medicamente que reduz os níveis de cálcio no sangue. A cada caixa com 30 comprimidos, o custo é alarmante: R$ 1,5 mil. Anna afirma que, desde que começou a ter acesso à medicação pela Farmácia de Alto Custo do Estado, a falta do medicamento começou a ser um problema. Ela está no limite de suas opções, com apenas uma caixa disponível, o que significa que em breve ficará sem o tratamento necessário. "Sem o remédio, eu posso ter problemas graves e até a perda do rim transplantado. Os exames estão normais porque tomo a medicação, mas se eu parar, a situação vai se agravar", desabafa.
Impotência e insegurança
Outro paciente, o advogado Alexandre Gimenes, também enfrenta dificuldades para acessar a medicação que precisa. Ele alerta que a falta de tratamento pode levar a consequências graves, incluindo o risco de morte. "O programa é fragilizado, porque não há para onde correr. Dependo do Estado para fornecer a medicação, e a situação é alarmante", expressa Alexandre.
O que diz o governo de SP?
Em resposta à crise, a Coordenadoria de Assistência Farmacêutica (CAF) do Estado de São Paulo informou que alguns medicamentos foram entregues recentemente na Farmácia de Medicamentos Especializados de Campinas. Entre eles estão Alfaepoetina, Cloridrato de Sevelâmer, Paricalcitol, Calcitriol e Cinacalcete. No entanto, outros medicamentos ainda estão em falta, e a CAF se comprometeu a garantir a regularidade do abastecimento, ressaltando que opera uma das maiores estruturas logísticas de medicamentos do país, movimentando mensalmente mais de 81 toneladas de itens farmacêuticos no Estado.
A CAF também declarou que realiza ajustes operacionais para evitar impactos e voltará a descentralizar a distribuição de medicamentos para os municípios, com a intenção de melhorar a logística e reduzir custos para as prefeituras.