Parasitas afligiram soldados romanos na Muralha de Adriano
Um novo estudo publicado na revista Parasitology revela que os soldados romanos, que atuavam na Muralha de Adriano durante o século III d.C., estavam sujeitos a infecções por parasitas intestinais, como ascarídeos, ancilostomídeos e protozoários microscópicos conhecidos como Giardia duodenalis. Essas condições adicionais podem significar que as agruras sofridas por esses homens iam muito além do frio e das dificuldades climáticas, incluindo náuseas crônicas e episódios de diarreia.
A análise foi realizada por arqueólogos que estudaram restos de parasitas em fezes antigas, colocando-se na linha de um trabalho anterior, que inclui a identificação de ovos parasitários em ruínas de vilas do passado. Um exemplo notável ocorreu em 2022, quando pesquisadores examinaram amostras de solo coletadas de um banheiro de pedra encontrado em uma villa do século VII a.C., perto de Jerusalém, revelando ovos de várias espécies de parasitas intestinais.
O estudo mais recente concentrou-se no Fort Vindolanda, localizado ao sul da Muralha de Adriano, onde a preservação excepcional do local possibilitou uma nova investigação sobre a transmissão de parasitas e doenças gastrointestinais entre soldados romanos. A coleta de material ocorreu em 2019, de um sistema de esgoto que transportava resíduos do banheiro até um riacho próximo.
- Sobre o Fort Vindolanda: Este local é famoso por suas tablets chamadas Vindolanda, que estão entre os documentos manuscritos mais antigos sobreviventes do Reino Unido.
- Casos de infecção: As análises revelaram que 28% das amostras contidas nos sedimentos foram positivas para ovos de ascarídeos ou ancilostomídeos, que normalmente são espalhados em condições de saneamento inadequadas.
Os pesquisadores descobriram que a maioria das fases de coleta indicava uma alta taxa de infecções parasitárias, mesmo em um ambiente que tinha acesso a latrinas e um sistema de esgoto. Segundo as análises, a presença do Giardia duodenalis sugere que os soldados romanos frequentemente lidavam com sintomas de diarreia e desnutrição. Apesar do conhecimento sobre vermes intestinais, as opções de tratamento eram limitadas, o que resultava em infecções crônicas e um agravamento dos sintomas.
"Os romanos tinham conhecimento dos vermes intestinais, mas as opções de seus médicos eram escassas para eliminar as infecções e ajudar os que sofriam de diarreia, significando que os sintomas poderiam persistir e piorar", afirma a coautora do estudo, Marissa Ledger, da Universidade de Cambridge.
As frequentes infecções parasitárias poderiam reduzir a aptidão dos soldados para o dever, tornando-os mais vulneráveis em suas fragilidades.
O estudo abre novas perspectivas sobre a vida dos soldados romanos e o impacto que a saúde intestinal teve sobre as operações militares na antiga Britânia romana, além dos desafios que a higiene pública enfrentava em suas fronteiras tão distantes. As descobertas reforçam a importância dos estudos paleoparasitológicos, não apenas na compreensão de passados longínquos, mas também nas lições que podem ser tiradas em termos de saúde pública hoje, em um contexto de globalização e migrações.