Thiago Pampolha, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) e ex-vice-governador, é figura central nas recentes nomeações de diretores na Cedae, a companhia estadual de águas. O cenário político no Rio tem sido marcado por tensões e disputas, especialmente em relação a um polêmico acordo de indenização proposto pelo governo do estado.
Nos últimos meses, dois aliados de Pampolha, José Ricardo Ferreira de Brito e Philipe Campello, assumiram direções dentro da Cedae, o que gerou preocupações em meio a votações críticas na Corte de Contas. As nomeações ocorreram em um contexto sensível, onde Pampolha rompeu politicamente com o atual governador, Cláudio Castro, após se filiar ao MDB e projetar uma candidatura ao governo em 2026.
A primeira nomeação, que teve início no começo de outubro, aconteceu durante um intenso embate em torno de uma indenização de R$ 900 milhões devido a uma disputa sobre a concessionária Águas do Rio. Pampolha, que anteriormente se afastou do governo de Castro, passou a articular-se com seus aliados, resultando na escolha de Brito e Campello para posições estratégicas na Cedae.
De acordo com informações obtidas pelo jornal O Globo, Brito, que já ocupou a posição de subsecretário no período em que Pampolha era titular da Secretaria de Meio Ambiente, foi indicado para ser o Diretor de Saneamento e Grande Operação. Em contrapartida, Campello assumiu a Diretoria de Sustentabilidade, que foi criada especificamente para acomodá-lo. Essas movimentações foram vistas como uma estratégia de Pampolha para garantir uma estrutura de poder que o apoiasse em seus planos futuros.
A discussão em torno da indenização à Águas do Rio intensificou as divergências entre os membros do TCE. Pampolha, em uma das sessões, votou a favor do acordo, mesmo com críticas sobre a moralidade e a legitimidade do mesmo, promovendo um embate intenso com os demais conselheiros e revelando a fragilidade das práticas de governança na Cedae.
As atas das reuniões da Cedae foram essenciais para desvendar as movimentações de Pampolha e seu círculo mais próximo, evidenciando como as decisões políticas podem influenciar diretamente as facilidades e os recursos da companhia de água do estado. As pressões para que a Cedae assumisse o pagamento dos R$ 900 milhões, apesar de argumentações contrárias que apontavam a falta de responsabilidade direta da companhia, revelam a complexidade dessas relações.
Após uma reação dos deputados estaduais no TCE, que questionaram o acordo e criticaram o governo do estado, algumas medidas foram adotadas, incluindo a suspensão temporária do acordo de indenização. O conselheiro José Gomes Graciosa ressaltou dúvidas morais sobre a negociação e pediu uma revisão nos valores e no contexto do que foi acordado.
Ademais, as nomeações de Brito e Campello demonstram um padrão de politicagem que se mostra recorrente em várias operações governamentais. Ambos os diretores, enquanto foram alçados a estes cargos na Cedae, deixaram suas posições anteriores na Secretaria de Meio Ambiente, o que gerou um questionamento sobre o comprometimento da integridade nas escolhas dirigentes.
Pampolha, ao romper acordos com Castro e ao se alinhar a novas frentes políticas, tem buscado manter sua relevância e abrir caminho para seus próprios objetivos eleitorais, mesmo que isso signifique uma luta interna contra os interesses do próprio governo. As repercussões dessa movimentação ainda estão por vir, e a atenção do público e da imprensa deve se voltar para as consequências que as decisões na Cedae geram não apenas para seus diretores, mas também para a população fluminense.
O governo do estado e a Cedae justificaram as nomeações em nota oficial, destacando a importância da experiência dos novos diretores, que passaram por áreas estratégicas da administração pública, como justificativa para as contratações. Contudo, a prova de que as nomeações se deram em um cenário tenso e conturbado já deixa suas marcas na estrutura política local.