O índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou um alívio em janeiro, com uma alta de apenas 0,16%, a taxa mais baixa para o mês desde 1994. Contudo, especialistas afirmam que esse resultado pode ser enganoso, dado que há uma deterioração qualitativa da inflação, que requer um olhar mais atento. A desaceleração do indicador mensal foi impactada por um fator transitório: o desconto nas contas de energia elétrica devido ao bônus de Itaipu.
Após a divulgação desse resultado, o IPCA acumulado nos últimos doze meses caiu de 4,83% para 4,56%, ainda acima do limite estipulado para 2025. A previsão inicial de analistas da Lseg para janeiro era de uma alta de 0,14%.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, destacou que "a inflação mais fraca de janeiro é reflexo, principalmente, do impacto do bônus de Itaipu nas contas de luz, que fez com que os preços da energia elétrica residencial recuassem 14,21%. Sem esse desconto, a inflação teria subido cerca de 0,7% no mês passado". Ela enfatiza que, em fevereiro, com o retorno dos preços energéticos à normalidade e a suspensão do bônus, a inflação poderá voltar a subir, alcançando em torno de 5% nos próximos meses.
Além disso, a economista adverte que, de modo geral, a inflação continua preocupante, especialmente com as taxas de serviços. "Os núcleos da inflação estão em trajetória ascendente", aponta Claudia. A inflação dos serviços, por exemplo, aumentou de 5,8% em dezembro para 5,9% em janeiro, um nível considerável.
A alta no custo da mão de obra, impulsionada por um mercado de trabalho aquecido, é uma das razões que devem continuar a pressionar a inflação do setor de serviços, o que leva a economistas a projetar que o IPCA feche 2025 em torno de 5,9%, refletindo também expectativas de câmbio depreciado.
Expectativas do Comitê de Política Monetária
O Comitê de Política Monetária (Copom) deve continuar seu ciclo de alta nas taxas de juros, com uma nova elevação de 1 ponto percentual na Selic, que passará para 14,25% na próxima reunião marcada para março. Economistas veem a necessidade desse ajuste como uma resposta direta à preocupação com a inflação na linha do horizonte.
Com a inflação de serviços intensivos em mão de obra crescendo, a XP afirma que a leitura do IPCA de janeiro reforça a expectativa de que a inflação seguirá acelerando ao longo de 2025. No caso da inflação de serviços, os preços dos serviços essenciais subiram 0,86%, embora tenham ficado abaixo da projeção de 0,93%. O núcleo de serviços apresentou uma queda na média trimestral, passando de 8,6% para 7,6%." O avanço nos preços da alimentação fora de casa foi menos acentuado do que o previsto, mas as tendências de alta persistem nos segmentos de serviços.
Fatores que influenciam a inflação
Leonardo Costa, economista do ASA, enfatizou que a impressão de leveza do IPCA pode ser enganosa. Segundo ele, o cenário pode mudar rapidamente; fevereiro espera-se que traga uma taxa mensal mais alta, especialmente com o fim do desconto sobre a energia elétrica e ajustes nos combustíveis, além do impacto dos reajustes sazonais dos serviços de educação.
Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital, destacou que os preços de transportes contribuíram significativamente para a elevação do índice, subindo 1,30% em janeiro, muito por conta do aumento nos preços dos combustíveis. Embora a inflação de alimentos tenha registrado uma leve alta de 0,96%, é a continuada pressão no setor de transportes que deve influenciar as decisões futuras do Banco Central.
Conclusão sobre o cenário inflacionário
André Valério, economista sênior do Inter, também identificou que, dentro da análise, os grupos de Transportes e Alimentação e Bebidas foram os que mais influenciaram a inflação em janeiro. Ele destacou que os transportes viram um aumento significativo, particularmente em passagens aéreas e tarifas de ônibus, o que contribuiu para a pressão no índice geral.
Igor Cadilhac, economista do PicPay, também alerta que, apesar de o IPCA ter registrado a menor taxa mensal desde a implementação do Plano Real, as nuances qualitativas do resultado permanecem alarmantes. A média móvel do núcleo EX3, que mede itens menos voláteis, sugere que os serviços subjacentes estão próximos de 8%, indicando que a inflação continuada nos setores mais sensíveis pode levar o Banco Central a manter uma política monetária rigorosa ao longo do ano.
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, concordou que a leitura do IPCA de janeiro não reflete mudanças significativas na qualidade da inflação, alertando para a pressão contínua em torno dos ciclos de política monetária e os riscos inflacionários futuros. Ele estima um avanço de 5,91% para o IPCA em 2025.