Aumento de pedidos de recuperação judicial e reestruturação de dívidas impacta empresas brasileiras em 2025. Reprodução: Globo
Os pedidos de recuperação judicial e reestruturação de dívidas no Brasil devem aumentar em 2025, impulsionados por tarifas elevadas, juros altos e uma desaceleração econômica nos Estados Unidos que afeta o mercado nacional. Este cenário se agrava com a expectativa de um acesso mais restrito ao crédito, colocando pressão sobre as empresas brasileiras.
A imposição de tarifas pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump, somada à alta nos juros americanos, traz preocupações sobre uma possível inflação crescente. Os especialistas alertam que esse panorama pode prejudicar ainda mais as empresas brasileiras, exacerbando os já elevados números de recuperações, tanto judiciais quanto extrajudiciais.
O aumento das tarifas no início de abril levantou inquietações sobre o futuro econômico dos EUA. "Com mais tarifas, os preços de insumos e produtos subirão para os consumidores americanos", destacou um economista. Isso pode levar o Federal Reserve a aumentar ainda mais as taxas de juros, afetando globalmente os mercados.
O efeito colateral desse cenário é a desvalorização do real frente ao dólar, o que por sua vez acarreta em uma inflação mais elevada no Brasil. O Banco Central, diante desse cenário, tende a aumentar também os juros internos, prejudicando as empresas que enfrentam custos de financiamento mais altos. Os dados da RGF Consultoria indicam um aumento de 12,9% nos pedidos de recuperação judicial no último trimestre de 2024, totalizando 4.568 empresas nesta situação.
O agronegócio é apontado como um dos setores mais afetados pela combinação de alta de juros e instabilidades climáticas. As empresas do setor frequentemente enfrentam problemas de gestão de caixa, especialmente em períodos de colheita. Conforme salienta Osana Mendonça, da KPMG, "muitas das dificuldades estão ligadas à falta de uma gestão eficiente, agravada por fatores externos como a guerra na Ucrânia, que afetou os preços de insumos necessários".
Outro setor impactado é o varejo, ao lado de empresas como Bombril e Gol Linhas Aéreas, além de clubes de futebol que solicitaram recuperação nos últimos meses, como o Cruzeiro e Botafogo. O cenário econômico tem levado diversas companhias a reconsiderar sua estratégia financeira.
Com a crise, muitos empresários estão voltando sua atenção para alternativas como a recuperação extrajudicial, onde é possível negociar dívidas diretamente com os credores, com menos burocracia e maior agilidade. Juliana Biolchi, especialista na área, afirma que "resolver partes específicas da dívida pode ser crucial para a sobrevivência das empresas".
Esse novo entendimento sobre o processo de recuperação indica um amadurecimento do mercado, em que cada vez mais empresas estão abertas a fusões e aquisições. Segundo Mendonça, "o empresário brasileiro está reconhecendo a importância de se desfazer de ativos ou aceitar novos sócios para trazer liquidez".
A expectativa, segundo analistas, é de que o número de pedidos de recuperação continue a crescer em 2025, refletindo tanto incertezas internacionais quanto a situação econômica interna. Os investidores precisam estar atentos às mudanças dinâmicas do mercado e ao impacto das políticas econômicas americanas sobre as operações no Brasil, especialmente em um cenário de alta de taxas de juros e tarifas que podem ameaçar a estabilidade das empresas.
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