Uma coalizão composta por mais de 30 organizações lançou um plano de adaptação climática focado na biorregião de Guapi-Macacu, localizada no Rio de Janeiro. Este projeto ambicioso tem como objetivo proteger as nascentes que sustentam cerca de 2,5 milhões de pessoas na área ao redor da Baía de Guanabara. O estudo realizado mapeou os riscos climáticos, que incluem inundações e incêndios, e propôs uma série de ações, como a restauração ecológica e o fortalecimento de sistemas de alerta.
A iniciativa é resultado do trabalho colaborativo entre diversas instituições, tanto locais quanto internacionais. O plano não apenas identifica riscos climáticos para as próximas décadas, como também sugere medidas que visam aumentar a resiliência ambiental, social e econômica da região. Muitas das ações sugeridas estão direcionadas à conservação e manejo dos remanescentes da Mata Atlântica, incluindo a restauração de matas ciliares, construção de barraginhas e bacias de retenção, aumento da arborização urbana e integração entre a agricultura, a pecuária e áreas de vegetação permanente.
Mariana Nicolletti, pesquisadora do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGVces), destaca a importância da manutenção da floresta para a qualidade da água: "A manutenção da floresta de pé tem um potencial e uma função importantíssimos para a provisão e a qualidade da água que abastece a população".
A região de Guapi-Macacu abriga áreas remanescentes bem preservadas da Mata Atlântica, como manguezais e florestas nativas, situadas em diversas unidades de conservação, incluindo o Parque Estadual dos Três Picos. Apesar de haver áreas de proteção ambiental, o local enfrenta sérias ameaças devido à expansão urbana, desmatamento, e atividades agropecuárias. O diagnóstico da situação climática realizada pela coalizão revelou que eventos climáticos recorrentes, como inundações e deslizamentos, têm afetado gravemente a região.
Além de um diagnóstico sobre os principais eventos climáticos, o plano inclui propostas para diminuir o impacto das culturas agrícolas, especialmente em um cenário de escassez de água. Isso inclui o diagnóstico de propriedades rurais visando técnicas que promovam uma agricultura mais sustentável e um melhor uso do recurso hídrico. O objetivo é também fomentar ações de conscientização e capacitação da população local, e incentivar o microfinanciamento de projetos que abordem os riscos identificados.
O desenvolvimento do plano teve início no segundo semestre do ano passado, através da articulação de mais de 30 entidades. Essa fase inicial incluiu a coleta de dados sobre eventos climáticos que impactaram a região na última década. "Tivemos encontros formativos e discutimos adaptações que consideram as particularidades do território", comenta Nicolletti.
A ideia central dessa coalizão, liderada pelo Movimento Viva Água Baía de Guanabara, em colaboração com a Fundação Grupo Boticário e outras entidades, busca criar uma rede de projetos mais colaborativos. Thiago Valente, gerente de projetos da Fundação Grupo Boticário, explica que "quando você olha para uma área protegida sob a luz das mudanças climáticas, percebe que há mananciais e ecossistemas inteiros ameaçados". O projeto visa também engajar empresas na implementação das propostas desenvolvidas, com ênfase na segurança hídrica como tema central.
O Fundo Viva Água Guanabara será fundamental para financiar as ações de conservação inicial, porém, será necessário buscar fontes adicionais de financiamento, incluindo recursos de doações nacionais e internacionais. A ambição é que esse plano de ação integral contribua eficazmente para a adaptação aos desafios climáticos, garantindo a segurança hídrica e a proteção ambiental na região.