Uma personal trainer foi vítima de agressões com viés transfóbico enquanto trabalhava na academia Selfit, localizada na praia da Boa Viagem, Recife. O incidente ocorreu quando Kely Moraes, fisiculturista cisgênero, saiu do banheiro feminino e foi abordada por uma aluna que a confundiu com uma mulher trans.
De acordo com Kely, a aluna a confrontou, afirmando que ela não poderia estar ali, questionando a sua presença no banheiro feminino. "Ela disse que eu não podia ir no banheiro, e eu perguntei por quê. Ela disse 'não é lugar para você' e quando perguntei novamente, ela respondeu que o banheiro para homens era mais abaixo", relatou a personal trainer.
Além da aluna, um homem se juntou à agressão verbal, de forma a obstruir a passagem de Kely. Ele insistediu que ela não poderia usar o banheiro feminino, indicando que havia um banheiro para sua suposta identidade no andar inferior. Kely, perplexa, perguntou: "por que eu sou o quê?" e recebeu a resposta: "É inclusa, é inclusiva, lá embaixo".
Imagens do incidente mostram o bate-boca acalorado, onde a aluna de Kely sugere que ela mostre seu documento de identidade aos agressores. "Ela [a agressora] falava com tanta certeza do que eu era, que eu quase mostrei minha identidade para provar que eu era mulher. Depois, entendi que eu não tinha que provar nada para ninguém", disse Kely.
A personal trainer também enfatizou que, mesmo não sendo trans, o que importa é o respeito. "Se eu fosse [trans], o que tem a ver? Por que isso ofende tanto? Eu estava só trabalhando, só queria ir ao banheiro", declarou Kely, refletindo sobre a gravidade da alcunha e do tratamento recebido.
Este não foi o primeiro incidente de discriminação que Kely enfrentou devido ao seu porte físico. "Por ser fisiculturista, nosso corpo é diferenciado e isso é relativamente normal acontecer, as pessoas olharem de forma negativa. Eu já fui convidada a me retirar de uma festa, mas nada nessa proporção. Me senti ofendida, humilhada, gritando para todo mundo enquanto as pessoas me mandavam ficar calada, eu que era a vítima ali", contou ela.
Após o incidente, Kely registrou um boletim de ocorrência e recebeu apoio de funcionários da academia e da aluna que a acompanhou até a delegacia de Boa Viagem. A Polícia Civil confirmou que foi registrada uma ocorrência de constrangimento ilegal e ameaça. Os envolvidos poderão ser responsabilizados pelos crimes de injúria e constrangimento ilegal.
A academia, por sua vez, se posicionou contra atos de preconceito, destacando que vai apurar o ocorrido. Em nota, a empresa afirmou que orientou os envolvidos a buscar as autoridades e que se compromete a colaborar com as investigações.