Professor Naercio Menezes Filho discute a relação entre educação e mobilidade social no Brasil. Reprodução: Globo
Naercio Menezes Filho, economista e professor do Insper, levanta questionamentos sérios sobre a mobilidade social no Brasil, afirmando que mudanças significativas no cenário social são improváveis nos próximos 50 anos. Segundo ele, as estruturas sociais estratificadas que dominam o país impedem que muitos brasileiros alcancem melhores condições de vida.
Filho enfatiza que a qualidade da educação é um fator crucial para reverter este quadro de desigualdade. Apesar de notar melhorias no índice de bem-estar em função de iniciativas como o Bolsa Família, as barreiras sociais ainda são robustas. Ele sublinha: "O nascimento de uma pessoa muitas vezes determina seu futuro", ressaltando a dificuldade de ascensão para aqueles que vêm de camadas menos favorecidas.
Os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, trouxeram avanços na qualidade de vida, mas não foram suficientes para eliminar a desigualdade. Filho observa que, mesmo com esses benefícios, muitos jovens ainda enfrentam obstáculos significativos devido à falta de uma educação de qualidade. "O acesso à transferência de renda é importante, mas o que se aprende na escola ainda é muito deficiente", comenta.
O economista discorre ainda sobre as dificuldades enfrentadas pelos jovens na atualidade. Ao afirmar que "os jovens sabem que vão ter mais dificuldade do que seus pais", ele aponta que a relação entre a origem e o sucesso profissional no Brasil é desestimulante. Para aqueles que estudam em escolas públicas de baixa qualidade e vivem em áreas com altas taxas de criminalidade, a ascensão social é uma realidade distante.
Embora tenha havido progressos em termos de renda e saúde, a educação ainda patina, dificultando uma mobilidade intergeracional mais equitativa. Desde a década de 2000, muitos jovens começaram a concluir o ensino médio, mas a habilidade de se integrar ao mercado de trabalho ainda é uma luta ingrata. Filho observa que o cenário não deve mudar drasticamente: "Não vejo nenhuma mudança radical nos próximos 50 anos", reiterando que a influência dos mais ricos nas decisões políticas continue a perpetuar a desigualdade.
As opiniões de Naercio Menezes Filho são um chamado para a reflexão sobre a necessidade de reformas profundas no sistema educacional, que devem ser acompanhadas por políticas que promovam a equidade social. A mobilidade social, mesmo com algumas melhorias, permanece como um desafio monumental no Brasil, exigindo um compromisso coletivo por parte de toda a sociedade.