Carlos Magno e seu filho Caetano brincam na Praia do Flamengo, evidenciando a recuperação das águas. Reprodução: Globo
A Baía de Guanabara vem passando por melhorias significativas em algumas áreas, especialmente nas praias do Flamengo e Botafogo. Essas transformações são atribuídas ao tratamento de esgoto de vários rios que antes despejavam poluição diretamente nas águas. Entretanto, a realidade é bem diferente em regiões como São Gonçalo e Duque de Caxias, onde o despejo irregular de esgoto e lixo continua a afetar a qualidade da água.
O crescimento urbano desordenado e a falta de sistemas adequados de saneamento ainda são problemas graves na Região Metropolitana. Apesar de dois terços do esgoto da região estarem tratados, estima-se que 18 mil litros por segundo de esgoto ainda sejam lançados sem tratamento direto nos corpos hídricos. Essas condições refletem a grande desigualdade da Baía no seu entorno, onde a degradação ambiental persiste.
Historicamente marcada pela poluição, a Praia do Flamengo obteve melhoria considerável com a implementação de um túnel interceptor de esgoto. O tunel de 9 km desvia a maioria dos dejetos da Zona Sul para um emissário submarino, evitando a contaminação das águas. A concessionária Águas do Rio realizou uma limpeza, retirando 3 mil toneladas de resíduos acumulados, e isso impactou positivamente a balneabilidade da praia, que passou a registrar índices favoráveis para banho.
A partir de julho de 2023, a Praia de Botafogo, que antes sofria com boletins de balneabilidade negativos, também começou a ter resultados positivos, permitindo que os banhistas aproveitassem a água. As melhorias geraram uma nova relação com o mar, que agora é considerado seguro por muitos, como destaca o empresário Carlos Magno Serqueira. Com o progresso, famílias começaram a frequentar as praias sem receio, desfrutando atividades esportivas e recreativas ao ar livre.
Apesar dos avanços na Zona Sul, a situação em distintas regiões da baía é preocupante. Em locais como entre o Caju e o Canal do Cunha, a poluição é visível, refletindo a contaminação das águas, que apresentam tonalidades alteradas por óleo e sedimentos. A presidente do Comitê de Bacia da Baía de Guanabara, Rejany Ferreira dos Santos, ressaltou a presença de esgoto não tratado em áreas urbanas, além de problemas relacionados à quantidade de resíduos acumulados nos rios.
Além disso, São Gonçalo e Duque de Caxias enfrentam o grave problema do chorume, resultante de lixões desativados que acabam contaminando os corpos d'água. A atuação do Ministério Público do Rio de Janeiro vem verificando a contaminação em diferentes pontos da bacia, na tentativa de abordar essas questões críticas.
O estado do Rio de Janeiro tem um marco legal que prevê a universalização do saneamento básico até 2033, com metas audaciosas de acesso à água tratada e ao esgoto para a população. Contudo, a execução das obras necessárias para alcançar tais objetivos ainda se mostra desafiadora. O ambientalista Emanuel Alencar destaca que o impacto de obras em certas áreas não reflete em toda a bacia, apontando que diversas porções ainda estão esperando melhorias significativas.
Embora o trabalho de saneamento avance em algumas regiões, as obras essenciais, como o Coletor Tronco Faria Timbó, que está quase concluído, e o Sistema de Esgotamento Sanitário de Alcântara, que seguirá em construção rumo a 2027, são exemplos da necessidade urgente de intervenções mais integradas para garantir um futuro sustentável para a baía.
A contaminação gerada pelo chorume e poluentes espalhados pelas águas afeta não apenas o ambiente natural, mas também as comunidades ribeirinhas e a atividade pesqueira. A procuradora Rosani da Cunha Gomes menciona que os poluentes atingem ecossistemas significativos, adicionando mais pressão sobre um patrimônio que já enfrenta sérios desafios.
Na APA de Guapimirim, onde a população de botos ainda persiste, observa-se um exemplo de esperança, com esforços de reflorestamento visando a revitalização dos manguezais e oxigenação das águas. A presença de filhotes indicaria uma continuidade de vida, porém a preocupação com a poluição continua pesando sobre o futuro desses animais, segundo José Lailson Brito, especialista no estudo dos mamíferos aquáticos.