Moradores de Anamã se divertem em ruas alagadas, transformando a cheia em um momento de lazer. Reprodução: Globo
Moradores de Anamã, no interior do Amazonas, transformaram as ruas alagadas pela cheia do Rio Solimões em um balneário improvisado. Um vídeo que viralizou nas redes sociais ilustra essa realidade, mostrando pessoas se divertindo, tomando banho e até navegando em botes. Com 70% do território comprometido pela inundação, o município enfrenta uma grave situação de emergência, segundo a Defesa Civil Municipal.
A influenciadora Kezia Gabriela, que filmou e publicou o vídeo que circulou amplamente, explicou que sua intenção era mostrar uma perspectiva diferente sobre a cheia que afeta a cidade. "Eu sempre vejo passar nos jornais que aqui em Anamã o povo sofre muito com a enchente que tem quase todo ano, então eu fiz esse vídeo pra mostrar pra quem me segue que não é bem assim. Aqui o povo aproveita esse período pra se divertir, tomar banho de rio nas águas correntes, pescar e fazer assado", afirmou.
Historicamente, Anamã é um dos municípios mais impactados pelo fenômeno das cheias no Amazonas. A vida na cidade é intimamente ligada à navegação e à adaptação a essa realidade, o que inclui a construção de casas de alvenaria em níveis elevados para prevenir alagamentos. De acordo com a prefeitura local, cerca de 800 famílias na sede estão sendo diretamente afetadas pelo alto nível do Rio Solimões, enquanto na zona rural, 22 comunidades impactam cerca de 997 famílias.
No cotidiano alagado, os moradores preferem navegar em canoas e lanchas ao invés de construir passarelas, o que conferiu ao município o apelido de "Veneza da Amazônia". Para Kezia, essa relação com a cheia é parte da essência de Anamã. "Nesse período guardamos nossas motos, pegamos as nossas canoas e tá tudo certo. As casas já são altas por esse motivo também, e tá tudo bem, é normal pra quem vive aqui", afirma com orgulho.
No entanto, a doutora em Ciências Ambientais e pesquisadora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Geise Canalez, alerta sobre os riscos à saúde envolvidos no contato com a água que inunda as ruas. "O impacto da cheia nas áreas urbanas, além dos problemas de alagação das moradias, é potencializado pela poluição. Existem graves problemas com gerenciamento de resíduos e acúmulo de lixo, o que gera contaminantes. Isso pode acarretar surtos de doenças gastrointestinais", explicou Canalez.
De acordo com um boletim divulgado pela Defesa Civil do Amazonas, 36 municípios estão em situação de emergência devido à cheia, afetando cerca de 371 mil pessoas diariamente. Os cidadãos enfrentam dificuldades de locomoção e perdas significativas na produção rural. A lista dos municípios impactados inclui Amaturá, Anamã, Anori, Apuí, entre outros.