Após a mais recente elevação da Taxa Selic, que atingiu 15% ao ano, o cenário econômico no Brasil aponta para uma possível desaceleração da inflação, com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) projetado abaixo de 5% para este ano. Essa tendência é impulsionada por uma série de fatores, incluindo a valorização do real frente ao dólar, o que pode trazer alívio nos preços de alimentos e combustíveis.
Ao longo do ano, o dólar já teve uma queda significativa de 12%, passando de R$ 6,30 para R$ 5,49, o que favoreceu a entrada de capital estrangeiro no país. Esse influxo de recursos, aliado à safra recorde e um clima favorável para a agricultura, deriva em preços menores para diversos produtos, especialmente alimentícios. Segundo economistas, a situação atual é favorável, apesar das incertezas globais, como conflitos no Oriente Médio que podem influenciar os preços do petróleo.
Luiz Roberto Cunha, economista da PUC-Rio, prevê que o IPCA pode fechar o ano em torno de 4,8%, citando já a influência da queda do dólar nos preços de bens duráveis, que registraram redução de 0,17% em maio. A combinação de um câmbio favorável e um aumento na oferta de alguns produtos, como aves devido a restrições nas exportações, tem contribuído para a estabilidade ou até mesmo queda nos preços, especialmente no setor de alimentos.
Fábio Romão, economista da LCA Consultores, destacou que a inflação alimentícia, após altas expressivas nos meses anteriores, deve registrar deflação em junho, com uma expectativa de queda de 0,32%. A diminuição dos preços pode ser mais amplamente sentida em produtos como frango e ovos, resultado de um aumento na oferta. A consultoria revisou sua projeção de inflação para alimentos em domicílio de 7,7% para 7,3% este ano, enquanto Cunha aposta em uma taxa ainda menor.
Além disso, a desaceleração dos bens industriais também é prevista, com Romão calculando uma alta de 3,8% em comparação a 2,9% do ano passado. Isso reflete o impacto positivo do real valorizado sobre os custos dos produtos importados e a diminuição da pressão inflacionária. Para o IPCA de junho, a expectativa de deflação na alimentação no domicílio é de 0,35%, o que deve contribuir para um ambiente econômico mais ameno.
No entanto, a inflação de serviços permanece preocupante, com previsões de alta de 6,2%, o que continua a alimentar a demanda e pode abrir espaço para novos reajustes de preços antes que o Banco Central considere a redução dos juros. Observa-se uma expectativa cautelosa em relação ao futuro do dólar, que pode voltar a subir, encerrando o ano em R$ 5,80, de acordo com algumas previsões, em meio a uma recuperação gradual da economia global e incertezas persistentes no cenário internacional.