Em um cenário de turbulência política e econômica global, a zona euro permanece como um refúgio atrativo para investidores em dívida. Atualmente, as primas de risco estão em níveis reduzidos, com a Espanha apresentando um diferencial de aproximadamente 60 pontos básicos, semelhante a números de 2010. Este movimento é apoiado tanto pela baixa nos juros do Banco Central Europeu (BCE) quanto pela recuperação das perspectivas de crescimento econômico na região.
A confiança dos investidores foi renovada, especialmente após a BlackRock, uma das maiores gestoras de ativos do mundo, evidenciar sua preferência por títulos soberanos da Itália e Espanha. Os recentes desafios políticos que cercam o governo de Pedro Sánchez, por exemplo, não têm causado alarme entre os investidores. "Estamos vendo um engajamento contínuo por parte dos investidores, com uma crença sólida no apoio de Bruselas para continuar seguindo diretrizes estabelecidas", destaca David Azcona, economista chefe da Beka Finance.
Além disso, outras economias da periferia, como Itália e Grécia, também estão observando uma queda nas suas respectivas primas de risco, que caíram dos 90 pontos básicos e 70 pontos, respectivamente, mostrando uma recuperação após os altos índices observados durante a crise anterior. Com isso, atualmente os níveis estão até abaixo dos registrados durante a pandemia, quando o BCE implementou políticas para estabilizar o mercado.
Os desafios enfrentados pela maior economia do euro, a Alemanha, que lida com recessões e a pressão fiscal na França, possibilitaram um ambiente delicado, mas também favoreceram economias menos estáveis, como as da Espanha e Itália. Como Javier Santacruz da Fundação de Estudos Financeiros do Instituto Espanhol de Analistas observa, "o risco país agora é mais evidente para economias centrais do que para as periféricas".
Projeções econômicas para a Espanha indicam um crescimento de 2,6% em 2025, superando a média da zona euro, que deve ficar em 0,9%. Salvador Jiménez, analista da Afi, afirma que tal crescimento diferencial tem feito com que a atenção ao ruído político diminua, assegurando a estabilidade no mercado. Tal contexto favorece a captação de fluxos de capital que buscam segurança na dívida europeia, em meio a um crescimento substancial em relação a países como os EUA e a China, onde há crescentes incertezas políticas e econômicas.
Manuel Pinto, analista de mercado, complementa que a situação atual coloca a Espanha em uma posição forte para recebeu investimento externo, notando que as taxas de endividamento são mais gerenciáveis em comparação com a Grécia e a Itália. Este cenário confortável proporciona uma maior segurança para investidores e ajudou a manter os diferenciais históricos no conjunto do ano.
Ainda, os especialistas apontam que as condições para um crescimento contínuo dos títulos de dívida da zona euro se estendem a um compromisso mais forte entre os países membros, com planos emergentes para uma emissão conjunta de dívida e uma colaboração mais rápida entre autoridades financeiras. Este ambiente favorável é um reflexo não apenas da crise de dívida do passado, mas também das lições aprendidas que estão ajudando a evitar conflitos fiscais e a flexibilidade no manejo de gastos públicos.