Preferência pelo Empreendedorismo no Brasil
Uma pesquisa recente realizada pelo Datafolha apontou que 59% dos brasileiros preferem trabalhar por conta própria. Este dado revela um insight importante sobre a dinâmica do mercado de trabalho no país, especialmente considerando que 31% dos entrevistados estariam dispostos a aceitar um emprego sem registro, desde que a remuneração fosse superior à de uma vaga formal. Atualmente, o Brasil possui cerca de 90 milhões de empreendedores ou aspirantes a empreendedores, segundo dados do Sebrae, o que posiciona o país como a oitava nação mais empreendedora do mundo.
Visões Críticas sobre o Empreendedorismo
No entanto, parte da elite intelectual do Brasil vê o empreendedorismo de maneira crítica. Para muitos, essa atividade é considerada mais um problema do que uma realidade econômica bem-sucedida. Especialmente entre intelectuais progressistas, o empreendedorismo é frequentemente analisado como uma forma de inserção precária no mercado de trabalho, sendo associado a novas formas de superexploração.
A Interpretação do Empreendedorismo e suas Implicações
Essa visão crítica ignora, contudo, a importância do setor empreendedor no Brasil. Não podemos desconsiderar que micro e pequenas empresas são responsáveis por cerca de 80% das vagas de emprego formal. Confundir empreendedorismo com trabalho por aplicativo é uma simplificação que não reflete a complexidade e a diversidade dos trabalhadores empreendedores. Essa abordagem elitista não leva em conta a realidade econômica que muitos brasileiros enfrentam.
O Elemento Cultural do Empreendedorismo
É fundamental reconhecer que o desejo de "abrir o próprio negócio" é o terceiro item mais almejado pelos brasileiros, ficando atrás apenas de "viajar pelo Brasil" e "comprar a casa própria". Este fenômeno é, na verdade, uma manifestação cultural das transformações sociais ocorridas nas últimas décadas na sociedade brasileira, refletindo uma busca por prosperidade e ascensão individual.
Experiências de Empreendedores na Periferia
Atualmente, coordeno projetos que apoiam micro e pequenos empreendedores em várias regiões. Observamos que muitos empreendedores vêm de contextos periféricos, como jovens da favela que, ao se formarem através de programas como o Prouni, buscam abrir seus próprios negócios. Outros exemplos incluem empregadas domésticas que, ao receberem o Bolsa Família, utilizam esses recursos para se livrarem de trabalhos inseguros e darem início a empreendimentos.
O Futuro do Empreendedorismo no Debate Nacional
Iniciativas como o programa Acredita e o trabalho do Sebrae são prova de que a visão negativa sobre o empreendedorismo não é um consenso. Este fenômeno transcende barreiras ideológicas e se tornou um tema central nas discussões sobre os rumos do país, mostrando que o empreendedorismo também pode ser visto como uma alternativa viável e desejável para muitos brasileiros.
“Abrir o próprio negócio” é o terceiro item mais desejado pelos brasileiros.
*Vinícius Wu, doutor em comunicação social pela PUC-Rio, é professor e produtor cultural.