A recente imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada por Donald Trump e com início previsto para agosto, representa um impacto significativo no agronegócio do Brasil. Os Estados Unidos, que são o segundo maior destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China, poderão ver uma queda nas compras de produtos como café, carne bovina, suco de laranja, etanol e açúcar.
Com a nova taxa, que pode ser implementada em 1º de agosto, o setor agrícola brasileiro precisa urgentemente buscar novos compradores. Produtos que tradicionalmente têm os EUA como um de seus principais mercados, agora têm que ser redirecionados para outros destinos, o que levanta preocupações sobre a capacidade de atender à demanda nesses mercados alternativos.
Uma das principais preocupações é em relação ao suco de laranja, que já enfrenta dificuldades. A Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR) alerta que não há infraestrutura ou demanda suficiente em outros mercados para absorver o volume necessário. Diante dessa situação, é crucial analisar quais países poderiam substituir os EUA como clientes do agronegócio brasileiro.
Potenciais Substitutos para o Café
Os Estados Unidos representam 16% do café exportado pelo Brasil, sendo o maior cliente global. Especialistas do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) citam países como China, Índia, Indonésia e Austrália como possíveis destinos alternativos. Esses mercados já compram café brasileiro e, com a demanda crescente, há espaço para expansão. A China, por exemplo, importou 1,2 milhão de sacas de café do Brasil, mas consome 6,3 milhões, indicando uma oportunidade significativa.
Fernando Maximiliano, analista da consultoria StoneX Brasil, salienta que a nova tarifa pode alterar o panorama global do mercado de café, permitindo que outros países como Honduras e Colômbia busquem reforçar sua presença no mercado americano, o que por sua vez abriria oportunidades para o Brasil em regiões que atualmente compram desses concorrentes.
O Impacto na Carne Bovina
Outro setor afetado é o da carne bovina, onde os Estados Unidos respondem por 12% das exportações brasileiras. Apesar de a China ser o maior comprador, outros países podem assumir essa demanda, incluindo México, Egito, Canadá, Chile e Emirados Árabes. A Associação Brasileira da Indústria de Carnes (Abiec) já está explorando novas oportunidades de negócio, especialmente na Ásia, onde o Vietnã retomou compras de carne.
Desafios com o Suco de Laranja
Os EUA respondem por 41% das exportações de suco de laranja do Brasil, e a tarifa de 70% representa uma séria ameaça ao setor. Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR, destaca a impossibilidade de redirecionar a produção devido à falta de estrutura em outros mercados. Expansão para a União Europeia poderia acarretar queda nos preços de venda, tornando essa alternativa insustentável.
Perspectivas para o Etanol
Os EUA são o segundo maior importador de etanol brasileiro, representando 16% das exportações. A União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) já procura alternativas, com a Coreia do Sul sendo um foco, além do Japão, que está desenvolvendo uma política para misturar etanol na gasolina.
O Mercado do Açúcar
Embora os Estados Unidos compitam por apenas 2,8% das exportações de açúcar do Brasil, novas oportunidades também devem ser exploradas. China e Indonésia, assim como países do Oriente Médio, estão sendo considerados como alternativas para compensar a perda do mercado americano.
A situação atual do agronegócio brasileiro diante da tarifa de Trump é preocupante. Especialistas ressaltam a necessidade de adaptação e a busca por novos mercados para garantir a continuidade das exportações e a sustentabilidade dos diversos setores envolvidos.
Fontes:
*Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Serviços, dados de janeiro a junho de 2025.
**CitrusBR, dados de janeiro a junho de 2025.
***União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), dados de 2024.