Dependência do Brasil e seus Riscos com Fertilizantes Russos
O Brasil enfrenta o risco de sofrer novas taxações por parte dos Estados Unidos devido à sua dependência de fertilizantes russos, que representam a maior parte de suas importações. O contexto se agrava após o presidente Donald Trump ter aplicado uma tarifa adicional à Índia por importar petróleo da Rússia, ação que, segundo ele, favorece a guerra contra a Ucrânia.
Essa situação gerou preocupações acerca do impacto que novas tarifas poderiam ter sobre a agricultura no Brasil, com potenciais aumento nos custos de produção e, consequentemente, nos preços dos alimentos. O consultor Carlos Cogo, da Consultoria Cogo, destaca que a vulnerabilidade do Brasil se deve à sua forte dependência de importações de fertilizantes, essenciais para a produção agrícola.
Consequências do Tarifazo de Trump para o Agronegócio Brasileiro
Trump, ao aumentar a tarifa sobre o petróleo russo importado pela Índia, estabeleceu uma nova taxa de 50%, posicionando este país entre os mais afetados pelas tarifas. A possibilidade de um tratamento similar para o Brasil pode levar a um aumento nos custos de produção agrícola, afetando não apenas os agricultores, mas também o consumidor final. "A dependência da importação torna o Brasil vulnerável a novos aumentos de tarifas", afirma Cogo.
Por Que o Brasil Necessita Importar Fertilizantes?
O Brasil tem uma necessidade crescente de fertilizantes, principalmente os componentes do NPK: nitrogênio, fósforo e potássio. Cico Lima, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV AGRO), revela que:
- Faltam matérias-primas: o país possui reservas limitadas para a produção de fertilizantes, especialmente para nitrogênio e potássio. Os principais fornecedores globais são Canadá, Rússia e Bielorrússia.
- Demanda grande: a produção nacional é insuficiente para atender a necessidade da agricultura brasileira, que depende fortemente de nutrientes para manter a produtividade.
- Altos custos: a logística no Brasil torna a importação mais barata, dado o custo elevado da infraestrutura local.
Além disso, o Brasil implementou um Plano Nacional de Fertilizantes em 2022, visando produzir entre 45% e 50% do que consome até 2050, o que requer um investimento significativo de mais de R$ 25 bilhões até 2030, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária.
A Troca de Fornecedores é Viável?
A Rússia é um dos principais fornecedores de fertilizantes, respondendo por uma parcela significativa das importações brasileiras. Segundo a consultoria Cogo, em 2024 a Rússia forneceu:
- 53% de fosfato monoamônico;
- 40% de cloreto de potássio;
- 20% de ureia.
Trocar fornecedores não é uma tarefa simples ou rápida, sendo necessárias reestruturações logísticas e possíveis negociações diplomáticas. O Brasil poderia buscar alternativas em países como Canadá, Marrocos e Nigéria, mas essa transição enfrentaria desafios significativos.
O Alto Consumo de Fertilizantes no Brasil
Atualmente, o Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, um fato que pode ser atribuído à natureza do solo brasileiro, que é quimicamente pobre em nutrientes. O Cerrado, em particular, apresenta baixa disponibilidade de fósforo e potássio e altos níveis de acidez. Além disso, o clima tropical e as chuvas intensas contribuem para a lixiviação dos nutrientes do solo, exigindo uma reposição constante. A agricultura intensiva, voltada à exportação, como a de soja e cana-de-açúcar, demanda ainda mais nutrientes, justificando a elevada necessidade de fertilizantes no Brasil.