As tarifas de importação de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros já estão em vigor e ameaçam a competitividade da indústria têxtil na região de Piracicaba, São Paulo. Essa taxa estabelece o Brasil como o país com a mais alta tarifa do mundo para entrar no mercado norte-americano, impactando diretamente o setor com possíveis cortes de investimentos.
A medida, introduzida recentemente pelo presidente Donald Trump, afeta particularmente as mais de 1,5 mil empresas da região, com destaque para cidades como Nova Odessa, Santa Bárbara d'Oeste e Americana. Recentemente, uma indústria de tecidos para colchões, controlada por uma multinacional belga, já começou a sentir os impactos. Com a nova taxa, a fábrica perdeu a chance de abastecer o mercado dos EUA, que agora tem como alternativa comprar da Argentina.
De acordo com Lars Müller, gerente geral da unidade da indústria em Nova Odessa, os efeitos dessas tarifas vão além do simples ajuste econômico. "Isso pode gerar outros reflexos nas contratações e na geração de empregos. A Argentina está se alinhando mais com os Estados Unidos e pode produzir para atender a qualquer demanda adicional que não seja satisfeita por outras plantas onde a taxa não é aplicada", declarou.
Leonardo de Sant'anna, presidente do Sindicato das Indústrias de Tecelagem (Sinditec) da região, alerta que a medida pode ter um efeito dominó, afetando não apenas os fabricantes de tecidos, mas também todas as empresas que fornecem insumos para exportadores. "Os tecidos, especialmente forros e materiais para calçados, são fornecidos para a indústria exportadora, e os impactos serão sequenciais na cadeia", explica.
O professor Rodrigo Lanna, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), reforça que os países competidores, como Vietnã, Malásia e Camboja, têm tarifas significativamente menores, em torno de 20%, tornando-os mais competitivos que o Brasil. Essa situação pressiona as empresas a buscarem diversificação de mercados, algo que não é fácil no setor têxtil, que requer produtos sob medida.
Além disso, um estudo recente indicou que a produção de artigos têxteis na região é de 335 mil toneladas, com 112 mil toneladas provenientes das cidades do polo têxtil. Há preocupação de que os investimentos para exportações, que poderiam chegar a R$ 80 milhões, agora se tornam inviáveis devido ao cenário econômico criado pelo tarifaço. O gerente da unidade de Nova Odessa enfatizou que as tarifas representam uma barreira considerável para futuros investimentos.
O impacto do tarifaço se estende não apenas à indústria têxtil, mas tem repercussões que podem afetar toda a economia local e a geração de empregos, destacando a fragilidade das cadeias produtivas em tempos de medidas protecionistas.