O estilista italiano Giorgio Armani morreu aos 91 anos, deixando como legado uma série de tendências que moldaram a sofisticação masculina nas telas ao longo de quatro décadas. Sua relação com o cinema foi marcada por escolhas cuidadosas e peças que transcendem o vestuário, tornando-se símbolos de personalidade para personagens icônicos. A notícia reverbera no meio da moda e do cinema, onde Armani não foi apenas costureiro, mas um arquiteto de imagem que ajudou a consolidar a elegância como linguagem universal de poder, charme e discrição.
Gigolô Americano
O figurino que moldou o protagonista
O suspense erótico de Paul Schrader convidou Armani a desenhar os trajes do protagonista, vivido por Richard Gere. O resultado ajudou a projetar não apenas roupas, mas uma persona: um homem descolado, elegante e sutilmente sensual, cuja presença no filme lançou Gere ao estrelato e, ao mesmo tempo, consolidou a reputação da grife como referência de alfaiataria contemporânea.
Armani criou para o personagem uma linha de peças que atravessou a tela com precisão de costura e cortes que equilibram o conforto, o porte e o apuro. O efeito visual das roupas ajudou a compor a aura de confiança que define o herói, e o filme tornou-se uma vitrine poderosa para a visão de Armani sobre moda masculina — minimalismo, linhas limpas e um acabamento impecável que transmite autoridade sem ostentação.
Os Intocáveis
A elegância como arma de persuasão
Alguns anos depois, Armani foi o escolhido para vestir o agente federal Eliot Ness, interpretado por Kevin Costner, na trama policial de Brian De Palma sobre a Chicago dos anos trinta. Em comparação aos mafiosos desleixados, Costner surge como o homem mais bem vestido em tela graças aos ternos de três peças clássicos e precisos, essenciais para o magnetismo do herói.
A atenção aos detalhes era evidente nas escolhas de tecido, caimento e proporção, que reforçavam a ideia de uma justiça imaculada e metódica. O visual de Ness, com o corte tradicional e a silhueta firme, funcionava como contraponto à violência do enredo, destacando a moral e a disciplina que moviam o personagem e, por extensão, a narrativa.
Batman: O Cavaleiro das Trevas
A estética de Gotham
Outro homem que se tornou modelo de sofisticação com a ajuda do trabalho de Armani é Christian Bale, que viveu o herói Batman em Gotham. Quando o herói não está mascarado, o personagem exibe modelitos da grife por toda a cidade. Fazem parte do guarda-roupa peças como gravatas de seda, blazers com ombreiras e camisas risca de giz, todas elaboradas em parceria com a figurinista Lindy Hemming. No terceiro filme da trilogia, Armani também assina os trajes de outros astros como Michael Caine, Gary Oldman e Joseph Gordon-Levitt.
As escolhas reforçam a ideia de que o herói, mesmo em aparições discretas, carrega uma assinatura de elegância que se encaixa na mitologia do vigilante. A alfaiataria, com cortes precisos e tecidos que caem com insistente simplicidade, cria uma referência de estilo para personagens que precisam combinar força e sofisticação em uma mesma imagem.
A Rede Social
O retrato do empreendedor
Diferente de Mark Zuckerberg, Sean Parker recorre a Armani para transparecer sucesso. A trama sobre os bastidores da criação da rede social tem uma leitura metalinguística no figurino do magnata interpretado por Justin Timberlake. Durante a pesquisa para o longa, a figurinista Jacqueline West descobriu que Parker vestia trajes feitos sob medida por Armani e decidiu fazer o mesmo com Timberlake. As jaquetas que o astro veste no filme condizem aos recortes reais adquiridos pelo empreendedor e ainda contam com uma etiqueta interna personalizada: Giorgio Armani para Sean Parker.
Essa escolha reforça a ideia de que o vestuário pode comunicar não apenas estilo, mas também ambição, recursos e visão de negócio. O figurino funciona como uma extensão da personalidade de Parker, criando uma representação visual de um empresário que navega entre tecnologia, poder e legitimidade social em busca de credibilidade.
O Lobo de Wall Street
Bit a bit: a estética do auge financeiro
Desenhos de Giorgio Armani embalaram os figurinos de O Lobo de Wall Street, para recriar a estética dos anos noventa, elemento essencial à história do protagonista, interpretado por Leonardo DiCaprio. A figurinista Sandy Powell vasou o acervo da marca e conseguiu acesso às peças que eram usadas por figuras do mercado financeiro — ternos clássicos e risca de giz que ajudaram a compor o universo do personagem. Armani ainda desenhou alguns trajes para DiCaprio, que os vestiu de forma despojada, refletindo a transição entre o luxo e a informalidade que marcava o período.
O resultado nos trajes é uma elegância que se mantém contemporânea, com a assinatura de uma grife que sabe traduzir a estética da alta sociedade sem abrir mão da praticidade. O figurino, além de vestir o ator, funciona como elemento narrativo que reforça a construção de um personagem muitas vezes enviesado pela ambição e pelo desejo de dinheiro, ao qual o vestuário serve como linguagem de poder.
Legado e perspectivas futuras
Com o falecimento, Giorgio Armani deixa como legado uma série de tendências que persistem em armários, acervos, lojas e brechós, consolidando a alfaiataria como referência de sofisticação masculina na tela. Os figurinos criados para os personagens do cinema continuam a inspirar gerações de atores e figurinistas, mantendo a grife como pilar da moda de filme e fortalecendo a ideia de que vestir bem é uma forma de contar uma história. A influência de Armani na ficção e na vida real amplia-se ao lembrar que o guarda-roupa, quando bem desenhado, pode tornar a personagem mais convincente, credível e memorável.